domingo, 3 de fevereiro de 2013

O Papel da Academia Militar "Marechal Samora Machel" na Promoção do Patriotismo nas Forcas Armadas de Defesa de Mocambique

O PAPEL DA ACADEMIA MILITAR “MARECHAL SAMORA MACHEL NA PROMOÇÃO DO PATRIOTISMO NAS FORÇAS ARMADAS DEFESA DE MOÇAMBIQUE Por Gabriel Fermeiro É obrigação de todos os Estados através das suas diversas instituições, sobretudo as de ensino, promover e elevar os níveis de sentimento e consciência patriótica dos seus cidadãos. Entre as instituições que, por excelência, devem cultivar o patriotismo encontra-se a militar. Ser força armada significa garantir, a todo custo incluindo o da vida, a soberania e a inviolabilidade do território nacional e, por via disso, o militar deve ter o conhecimento profundo da História Pátria da nação que lhe viu nascer e acolhe os túmulos dos seus antepassados. Tendo sido constatado a não inclusão daquela História na Academia Militar Marechal Samora Machel (AM “MSM”), foi efectuada uma pesquisa, cujo resumo consta no presente artigo, com seguinte objectivo geral: compreender o impacto da não inclusão da História Pátria no currículo de formação de oficiais na AM “MSM”. Na sequência do objectivo anterior foram definidos os seguintes objectivos específicos: identificar os conteúdos que elevam o sentimento e a consciência patriótica nos programas de História do ESG, assim como, na cadeira de História Militar leccionada na AM, demonstrar o papel da História Pátria para as Forças Armadas Defesa de Moçambique; identificar as competências profissionais, sociais e políticas dos oficiais das FADM formados na AM “MSM”. Em concordância com os depoimentos dos oficiais no activo assim como na reserva e dos estudantes da Academia Militar a inclusão da História Pátria ajudaria na promoção do patriotismo das Forças Armadas dada finalidade para a qual foi concebido o seu ensino. Palavras-chave: Academia Militar, História Pátria, Patriotismo e Formação Oficiais. Introdução O presente artigo é parte da dissertação de mestrado cujo estudo se centrou na busca do papel da Academia Militar “Marechal Samora Machel” na promoção do patriotismo nas Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM) no período compreendido entre 2005 e 2011. O propósito de estudo surge na medida em que o currículo da Academia não inclui a História Pátria sabendo-se nem todos alunos durante a sua passagem pelo Ensino Secundário Geral e Técnico Profissional leccionam a História Pátria. A candidatura à Academia Militar é voluntária, cabe a esta instituição de ensino militar transformar a euforia, a emoção que os jovens transportam consigo para o fervoroso dever patriótico de defesa da pátria amada. É nesta circunstância que a Academia Militar é chamada a desenhar um currículo que possa contemplar matérias que se relacionam com os valores, virtudes, a honra, em suma, a componente de educação para a cidadania ou patriótica. Na sequência do exposto no parágrafo anterior foi realizada uma pesquisa com vista a encontrar a compreensão do dever patriótico por parte dos estudantes que frequentam o Curso de Formação de Oficiais (CFO) na Academia Militar. Como base do estudo serviu-se da revisão bibliográfica e entrevistas dirigidas aos intervenientes no processo de formação na AM, Combatentes da Luta de Libertação Nacional e comandantes das unidades e comissários políticos das unidades militares das extintas FPLM/FAM. A Educação Patriótica em Moçambique Para a compreensão do papel da Academia Militar (AM) na promoção do patriotismo nas FADM é imperiosa apresentação da evolução deste processo ao longo dos tempos. A educação para a consciência e elevação do sentimento patriótico foi uma das grandes preocupações da FRELIMO. Os moçambicanos que se reuniram em Dar-es-Salaam em 1962 representavam quase todas as regiões de Moçambique e todos sectores da população (…).Vínhamos de vários pontos de Moçambique (…) estavam representados diferentes grupos étnicos e linguísticos, várias raças, várias religiões, várias origens sociais e políticas. As possibilidades de conflitos eram ilimitadas, e verificamos que era preciso fazer um esforço consciente para preservar a unidade. (…). Desde o início desenvolvemos a educação política para combater o tribalismo, o racismo e a intolerância religiosa (MONDLANE, 1995: 100 e 107). Observe que o autor sublinha dois aspectos importantes: de os fundadores da FRELIMO terem vindo de todas regiões e ao facto de serem originários de todas as classes até então existentes em Moçambique. Portanto, foi um grande esforço efectuado para fazer-se sentir a coesão nas fileiras dos combatentes. A tarefa em referência cingia-se em inculcar aos moçambicanos o valor da unidade nacional e da luta de libertação nacional. Para MAZULA (1985) a História ajudava aos combatentes, através da compreensão do passado, a entenderem a necessidade de importância da luta armada revolucionária. Desta feita, a consolidação da unidade nacional e das conquistas do povo moçambicano foram preservadas desde 1962 até 1990 através da educação política, por um lado e, através do ensino de História Pátria, por outro lado. A introdução do multipartidarismo face a nova ordem mundial fortemente influenciada pela queda do bloco do Leste em 1989 e consequente fim da guerra fria, do apartheid na região Austral de África e do conflito armado em Moçambique fez com que o sector de educação realizasse reajuste no currículo de ensino. As transformações operadas no Sistema Nacional de Educação (SNE), confirmadas pela lei 6/92, conferiram algumas alterações nos programas de ensino tendo a cadeira de História Pátria sido uma das que sofreu mudanças radicais nos seus conteúdos. SITOE (2000) e IVALA (2002) estudaram a questão do ensino de História. O primeiro estudou o ensino de História nas escolas primárias na cidade de Maputo e o segundo abordou a relação do ensino desta cadeira com os poderes autóctones em Moçambique. Constatou -se através das abordagens desses autores que as transformações curriculares sofridas no SNE, sobretudo, na cadeira de História fazem com que os jovens não tenham o domínio da História Pátria. Os objectivos da Educação Patriótica nas FPLM/FAM As forças armadas são, na sua essência, os guardiões dos Estados. A história reza que elas foram em todos os tempos os garantes da soberania dos diversos reinos e mais tarde repúblicas sempre servindo os mais admirados valores culturais, económicos dos seus povos. Elas existem em função e para o povo e nunca contra este. Entre vários aspectos que devem ser observados para que se efetivem os objectivos pelos quais são criadas as Forças Armadas é a valorização da história, da cultura dos povos e a unidade na diversidade. Segundo MAO TSE TUNG (1944) apud FFRELIMO (s/a:77) “um exército sem cultura é um exército ignorante e um exército ignorante não pode vencer o inimigo”. Para MACHEL (1981:23), um dos veículos para a aquisição dos mais elevados valores das Forças Armadas é o ensino do valor do povo e os seus interesses só assim é que ganharão o espírito de servir o povo. Para MATARUCA (2011) a realização da educação cívico - patriótica no seio dos militares é uma prioridade para conciliar o passado histórico-cultural, a coesão nas fileiras e as exigências da actualidade. Note-se que o apelo se concentra na elevação dos valores culturais do povo moçambicano. Assim foi durante a Luta de Libertação Nacional e mesmo na guerra dos 16 anos. Sabia-se que só com a educação patriótica seria possível manter a unidade e Forças Armadas coesas com alto sentido patriótico, caso contrário a instituição militar podia “ruir como um edifício sem alicerces sólidos”. Com este ensinamento, as gloriosas vitórias do povo, o respeito pela dignidade humana, o orgulho de ser moçambicano, a defesa da pátria mãe, a unidade nacional e muitos outros valores culturais, seja, materiais ou imateriais (tangíveis ou intangíveis), eram preservados. . Era preciso que os combatentes da FRELIMO, que participaram na guerra de libertação e que se transformavam gradualmente em forças regulares, mantivessem os valores militares que MATOS (2003:51) apud MATARUCA (2011:38) considera indispensáveis: patriotismo, honra, coragem, disciplina e solidariedade. O contributo da História Pátria na promoção do patriotismo nas FADM As Forças Armadas (FA) são a componente principal de defesa da pátria, contra qualquer tipo de agressão, sobretudo externa. Neste contexto, educar, forjar o amor a pátria, elevar o sentimento e a consciência é dever de cada cidadão. Para a efectivação deste processo, é preciso, em primeiro lugar, dotar de conhecimento do meio social, económico, político, cultural, em suma, devir histórico do país, de todos nascidos deste “ventre” que se chama Moçambique. Por outro lado, é importante que os mais jovens saibam que Custou esforço, a Liberdade. Custará mais esforço conserva-la: (…). Mas nós juramos defendê-la como o bem mais precioso, com todas as mãos unidas - mãos dos que caíram por ela e dos que por ela vivem, dos que plantaram p’ra sempre, em si e na terra, a bandeira tão bela da Revolução (FRELIMO, 1976 in FRELIMO, s/a: 18). Em cooperação com outras áreas de saber, como a Geografia, a História ajuda a unir gente distante pelo estabelecimento das relações existentes no passado de alegria ou de dor comum. Na base da aproximação, os homens conhecem-se melhor e perspectivam novas relações rumo ao desenvolvimento. Machel, em Pemba, falando sobre a questão da unidade nacional, lançou algumas questões como as que se seguem: Como amar aquilo que não se conhece? Como admirar aquilo que não vimos, que não conhecemos? Então, odiámo - nos porque não nos conhecemos. Não há outra razão. Mas nem todos podemos nascer na mesma província, no mesmo distrito! Temos de pensar, reflectir nestas questões (MACHEL, 1983: 26). O apelo deve ser considerado com especial atenção quando se trata do sagrado dever de defesa da Pátria. Para MATARUCA (20011: 39) é importante saber que “não se defende o que não se ama. Os cidadãos devem ser educados para amar a sua pátria, para que aceitem defendê-la dos perigos e ameaças que possam pôr em risco a sua segurança. Se de princípio sabe-se que amor à pátria deve ser “cultivado e regado” através da educação, o que se espera de um militar que não sabe por que deve defender a nação que lhe viu nascer? O Sistema Nacional de Educação (SNE) não privilegia o ensino da História Pátria no ESG1, nível que todos alunos têm oportunidade de verem esta cadeira. Nesta óptica, os alunos que, no ESG2, não optarem pelo Grupo A, estão “condenados” a não ter o domínio da História Pátria para o resto da sua carreira estudantil. Por outro lado, sabe-se que as crianças que concluem a 7ª classe podem ingressar no Ensino Técnico Profissional, sob tutela do MEC ou de outros Ministérios, como o da Saúde onde não é leccionada a cadeira de História. Nas sociedades actuais qualquer instituição, entre elas a militar, não é mais julgada pelo que se propõe fazer, mas pelo que efectivamente faz. Tratadas pela sociedade e pelo mercado como qualquer outra instituição, as Forças Armadas estão, assim mais sujeitas ao escrutínio e controlo social. Cultivar a legitimidade tornou-se cada vez mais uma necessidade, tendo em vista a prevenção de possíveis situações de banalização institucional (RESENDE et all, 2008: s/p). A crescente necessidade de formar jovens dotados de altas capacidades profissionais tem relegado para o segundo plano a componente social e humana nas políticas de formação. Como prova disso, no actual currículo do ESG foram acrescidas algumas cadeiras profissionalizantes . Na óptica do legislador, estas cadeiras são indispensáveis no contexto de preparação do homem do amanhã para o combate ao difícil “inimigo comum” - a pobreza. Para que os militares possam ter o domínio do seu território em termos de conhecimento da evolução e desenvolvimento das instituições sociais, económicas e políticas devem ser ensinadas a História Pátria. A História constitui um dos principais vectores da construção da moçambicanidade e unidade na diversidade cultural. Compreensões e competências profissionais face ao dever patriótico O centro de atenção deste trabalho são Estudantes do Curso de Formação de Oficiais (EFCO) mas também era importante que se procurasse dos militares que estão simplesmente a cumprir o Serviço Efectivo Normal (SEN) as reais causas que lhes levou a ingressar nas FADM e qual seria a pretensão decorridos os dois anos do cumprimento do dever de defesa da pátria. Através das respostas obtidas dos militares constatou-se que tem – se observado a unidade nacional na formação de subunidades militares pois, os militares visados são provenientes de todo o país. Entre os MCF, a maioria concluiu o ensino básico e até médio, mas trata-se apenas do Ensino Secundário Geral (ESG). Face a este cenário levanta-se a questão seguinte: será que a consciência patriótica apenas atinge aos jovens do ESG? Ou as campanhas de sensibilização levadas a cabo pelas autoridades não são direccionadas ao Ensino Técnico Profissional (ETP)? O que se pode dizer a respeito do teor do parágrafo anterior é que aqueles jovens aderiram às Forças Armadas como refúgio do desemprego já que o mercado do emprego aposta mais nos indivíduos com formação profissional o que não é o caso dos que fazem o ESG. Na verdade a necessidade do enquadramento no aparelho do Estado com uma profissão é um dos principais factores que atrai os jovens nas Forças Armadas. Esta afirmação tem sustentação uma vez que entre 2006 e 2007 o número de desmobilizados superou aos que decidiram continuar nas FADM. Mas a partir de 2008 o gráfico inverteu-se. Concorreram dois factores para a inversão: Primeiro, em 2007, foi aberta Escola de Formação de Sargentos “General Alberto Joaquim Chipande”, em Boane, província de Maputo. O segundo factor é: a Academia Militar passou desde 2007 a atribuir bolsas de estudos à soldados do Quadro Permanente nas diversas instituições de ensino do país desde que reúna requisitos exigidos, 10ª e 12ª classe para a frequência de cursos médios e superiores conforme o caso. Em função dos dados obtidos no inquérito concluiu-se que a concorrência no mercado do emprego coloca os jovens que frequentaram o ESG em desvantagem dai que recorrem para o Ministério da Defesa Nacional que não exige formação profissional e ai lutam para se formarem. Esta oportunidade, que é rara em outras instituições públicas e privadas, tem contribuído para a permanência significativa dos militares após o cumprimento do Serviço Efectivo Normal. A compreensão do papel da História Pátria pelos estudantes da Academia Militar O maior orgulho de qualquer povo é o domínio e o conhecimento da sua própria origem, evolução e as relações com os seus próximos. Esta complexa “teia” de conhecimentos é adquirida através de ensinamentos em escolas, ao nível da comunidade, ou na família onde cada indivíduo se encontra inserido. Por outro lado, cada sociedade cria e molda o homem que deseja para uma determinada época em função das exigências e necessidades. À medida que o tempo vai avançando, a sociedade rejeita e acolhe alguns valores culturais e outros permanecem. O que predomina é a mentalidade, aquilo que se tem em comum. Para LE GOFF apud VAINFAS (1991:139-40): (…)‘a mentalidade de um indivíduo histórico, sendo esse grande homem, é justamente o que ele tem de comum com outros homens de seu tempo’ (…) ‘ é o que escapa aos sujeitos particulares da história, (…) é o que o César e o último soldado de suas legiões, Cristóvão Colombo e o marinheiro de suas caravelas têm em comum (…). Reparando para o currículo de formação em vigor na Academia Militar (AM), constata-se que existe um vazio em termos de educação para a cidadania no seio dos formandos. Com um currículo puramente técnico, nada se espera no futuro oficiais que não defenderão as conquistas do seu povo. Em concordância com MATARUCA (2011:28-9) Na vida, deve existir o justo equilíbrio entre aquilo que se herda e o que deve ser inovado, porque a existência humana não é um simples amontoado de repetições. Do mesmo modo que nos preocupamos em conhecer e valorizar o nosso passado e as tradições a que fomos legados pelos nossos antepassados, devemos fazer o esforço de adequar a nossa vida às exigências de cada fase. (…). As novas gerações devem ser educadas nos valores culturais que ainda se adequam ao desenvolvimento da sociedade e à dinâmica da inserção do país no mundo global. O apelo que o autor faz só pode ser eficiente se as gerações novas forem ensinadas o passado de dor e de alegrias comum da nação que são filhos e devem a honra a lealdade e a defesa. A Academia Militar (AM) recebe da sociedade jovens “carregados” de valores morais, éticos e culturais moldados em função do meio em que foram educados. Neste aspecto, existe o agravante de a maioria dos jovens que ingressam na AM não terem visto com alguma profundidade a História Pátria no Ensino Secundário Geral (ESG). Dados obtidos do registo dos estudantes que ingressam para o curso de oficiais na AM indicam que um quarto (1/4) é que teve História Pátria no ESG2 admitindo-se neste sentindo que o resto não tem o domínio da História Pátria. Esta ideia é partilhada pelos professores de História inquiridos, pois lamentaram que a maior dificuldade que enfrentam na mediação dos conhecimentos da História Militar Pátria é a falta de conhecimentos de base desta história. Os estudantes inquiridos, para além de terem afirmado que a introdução da cadeira de História Pátria era uma necessidade imperiosa, também demonstram que não conhecem, no mínimo, a História da instituição que frequentam, apesar de parte desta estar patente no Museu local como consequência de falta de visitas de estudos aos locais históricos. As visitas de estudo, conforme defende PROENÇA (1990:130) servem para (…) levar o aluno a aperceber-se que não podem compreender completamente uma civilização senão conhecer as suas manifestações artísticas. (...), levando-o a compreender a mentalidade daqueles que a produziram ou que para isso deram sua contribuição. (…) observar um quadro, uma escultura, ou qualquer outra manifestação artística, o professor, além de realidade visível, (…), chame atenção dos seus alunos para outros aspecto que nela se encontram representadas como a mentalidade, a ideologia, a psicologia do autor ou duma época (…). Os estudantes da Academia Militar confundem os factos históricos da sua terra e os da instituição de ensino que frequentam. A afirmação surge na sequência de respostas obtidas a uma pergunta que pedia o significado do dia 2 de Outubro. Nesta data os estudantes do 1º ano juram a Bandeira Nacional, em cerimónia pública e na presença do Comandante - Chefe das Forças de Defesa e Segurança. Em função do que se registou no terreno, não restam dúvidas de que o ensino da História Pátria na formação dos oficiais das FADM na Academia Militar é uma necessidade imperiosa, pois os jovens que ai frequentam não têm o conhecimento da importância desta cadeira. Isto resulta da secundarização da cadeira de História nos diversos curricula dos subsistemas de SNE, em particular das instituições de formação profissional. Quando se diz que resulta da secundarização do ensino da História é em virtude de esta cadeira pautar sempre pelo questionamento e crítica dos fenómenos ou eventos ocorridos ao longo dos tempos. As competências profissionais, sociais e políticas dos Estudantes da Academia Militar O amor, o sentimento e elevação da consciência patriótica são valores indissociáveis com a unidade nacional. Por outro, cimentar a unidade nacional significa valorizar o esforço das lutas de resistência contra a presença e ocupação europeia protagonizadas pelo povo moçambicano. É necessário incutir no seio dos mais jovens os conhecimentos acumulados ao longo dos tempos através de vivências e saberes teóricos e práticas diárias. Os estudantes inquiridos sobre a necessidade de ou não inclusão da disciplina de História Pátria dividiram-se em termos de opinião. Apesar da maioria ter reconhecido a História Pátria como importante, alguns mostraram-se indiferentes. Tal como a questão de abandono das fileiras militares após a conclusão da formação é preocupante saber que, entre os moçambicanos, há quem não se interessa pelo domínio da sua história. Em função das respostas, nota-se que os futuros oficiais não transportam consigo o fervoroso dever sagrado e orgulho de defesa da pátria. Ainda mais o slogan amplamente difundido pelo comando da AM nas vésperas e durante as inscrições para a admissão naquela instituição serve de uma atracção destorcida dos jovens que ingressam para CFO. O referido slogan publicitário é claro: “Academia Militar, mais que uma profissão, um futuro promissor”. Como se pode notar o slogan não chama atenção a questão da defesa de pátria mas simplesmente ao bem-estar dos jovens que nela se formar. De acordo com RIBEIRO (s/a:2) (…), um cidadão ingressa nas Forças Armadas vindo dos mais variados ambientes sociais, com diferentes padrões morais de referência. Por isso, sabendo-se que a instituição militar se fundamenta na solidez moral dos seus efectivos, é de capital importância que, mesmo após um cuidado recrutamento, se ensinem e cultivem permanentemente as virtudes militares que tornarão os membros das Forças Armadas mais dignos da instituição que servem e, acima de tudo, da Pátria a quem hipotecaram a sua solidariedade irrestrita, no momento em que juraram defendê-la com o sacrifício da própria vida. O programa da cadeira de História Militar prova que os futuros oficiais têm uma ligação ou identificação limitada com a sociedade em que se encontram inseridos, pois, na sua essência, não tem relações com os diferentes grupos etnolinguísticos, suas origens e o passado comum e a questão da definição das fronteiras entre Moçambique e os territórios vizinhos. Sabe-se, em conformidade com FRELIMO (1983:79) que A consciência patriótica forma-se no estudante que se educa nos valores da nossa história, da nossa cultura e da nossa Revolução (…) A consciência patriótica alimenta-se, em cada cidadão, da evocação dos factos mais significativos da nossa história dos valores mais elevados da nossa Revolução (FRELIMO, 1983 a: 79-80). MATARUCA (2011) afirmou haver uma tendência de abandono dos valores culturais tão essenciais para a nossa afirmação e permanência como sociedade. Muitas vezes, o pessimismo se acampa nas mentes de cidadãos, resfriando-lhes a cidadania. O autor inspirou-se nas palavras de MARTINS apud NOGUEIRA (2005: 275-276), o seguinte: “quando uma nação se condena pela boca dos seus próprios filhos, é difícil, senão impossível, descortinar o futuro de quem perdeu por tal forma a consciência da dignidade colectiva”. A não inclusão da História Pátria e de uma Educação patriótica sistematizada no seio dos ECFO da Academia Militar, pode concorrer para situações em que os jovens ai formados não compreendam, na essência, o valor da unidade nacional e manutenção firme das actuais fronteiras territoriais, pois lhes faltarão conceitos que justifiquem a manutenção do Estado Moçambicano. Está-se perante uma situação em que a instituição militar está afastar-se da nobre missão de edificar uma nação una e coesa a medida que os homens que viveram o passado colonial, o horror da guerra dos 16 anos e outros males resultantes da desunião estão desaparecendo. Considerações finais Pesquisar e escrever sobre o papel duma instituição, principalmente a militar, em relação ao seu contributo para a elevação e consciencialização patriótica não é fácil. Em causa está o aparente abandono desta tarefa verificado logo a seguir a institucionalização do multipartidarsmo. Não se pode entender que o multipartidarismo destruiu a conduta aceitável da sociedade moçambicana mas sim não foi acompanhado nas suas transformações. Na verdade, o multipartidarismo foi entendido como se fosse a ausência de directrizes para as novas gerações. Ao nível do Sistema Nacional de Educação as mudanças consistiram na retirada de parte dos conteúdos programáticos na cadeira de História Pátria que diziam respeito a génese da unidade nacional e o heroísmo do povo moçambicano. Como senão bastasse, os conteúdos que ainda fazem parte dos programas de História Pátria são leccionados a crianças da 4ª e 5ª classes o que não dá garantia de aprimoramento dos mesmos. O maior número dos jovens que são admitidos para frequentar o Curso de Formação de Oficiais na Academia Militar são provenientes do Ensino Secundário Geral e sobretudo aqueles que não tiveram a História Pátria uma vez que dos onze cursos ministrados na Academia Militar apenas um é que exige os conhecimentos da cadeira de História para a sua admissão. Dados obtidos no campo de pesquisa apontam para uma urgente inclusão da cadeira de História Pátria ou a cadeira de Educação Cívica mas que tenha uma forte componente de conteúdos da História Pátria. Este procedimento poderá colmatar o cenário que está acontecendo na formação dos jovens oficiais das FADM que saem da Academia Militar sem o domínio do meio económico, social, cultural e político de que são potenciais defensores. Bibliografia ACADEMIA MILITAR “MARECHAL SAMORA MACHEL”. Programa de História Militar. Nampula, AM, 2010 _____. Mais que uma profissão, um futuro promissor: condições de acesso 2012. Nampula, AM, 2011. FRELIMO. Poesia de Combate. Maputo, S/ED, S/A. INLD. Consolidemos aquilo que nos une: reunião da Direcção do Partido e do Estado com os representantes das confissões religiosas 14 a 17 de Dezembro de 1982. Maputo, INLD, 1983. IVALA, Adelino Zacarias. O ensino de História e as relações entre os poderes autóctone e moderno em Moçambique, 1975- 2000. Tese para obtenção do grau académico de doutor em Educação/ Currículo. São Paulo, PUCSP, 2002. MACHEL, Samora. Dominar a ciência e arte militares para defender conquistas da Revolução [discurso de abertura da EM]. Nampula, 1978. ________. A nossa força está na unidade. Maputo, INLD, 1983. MATARUCA, Francisco Zacarias. Importância dos valores culturais no desenvolvimento das Forças Armadas de Moçambique. Trabalho de Conclusão do Curso de Promoção de Oficiais Generais. Lisboa, IESM, 2011. MAZULA, Brazão. Educação, cultura e ideologia em Moçambique 1975 – 1985. 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