domingo, 31 de dezembro de 2017

HISTORIA DA ACADEMIA MILITAR "MARECHAL SAMORA MACHEL"



Gabriel Fermeiro














História da Academia Militar "Marechal Samora Machel": da ocupação da região da Macuana pelos portugueses até a primeira quinzena do século XXI










Nampula
2016








Gabriel Fermeiro











História da Academia Militar Marechal Samora Machel: da ocupação da região da Macuana pelos portugueses ate a primeira quinzena do seculo XXI


Ensaio elaborado no contexto da celebração dos 10 anos da Academia Militar “Marechal Samora Machel”
















Nampula
 2016



INDICE


ABREVIATURAS E SIGLAS viii
DEDICATÓRIA ix
AGRADECIMENTOS x
INTRODUÇÃO 10
PARTE I: CONTEXTUALIZAÇÃO 11
  1.1. Localização Geográfica 11
1.2. Missões da Academia Militar “Marechal Samora Machel” 14
1.3. Natureza dos cursos ministrados na AM “MSM” 15
1.4. Condições de acesso à Academia Militar “Marechal Samora Machel” 16
1.5. O currículo da Academia Militar “Marechal Samora Machel” 18
1.6. Estrutura orgânica da AM 20

PARTE II: A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA ACADEMIA MILITAR “MARECHAL SAMORA MACHEL” 22
2.1. Da fundação à Independência Nacional 22
2.2. Da Independência ao Acordo de Roma 25
2.2.1. A criação da Escola Militar 26
2.2.2. Marechal Samora Machel, Patrono da Escola Militar 29
2.3. Do Acordo Geral de Paz a criação da Academia Militar 31
2.4. O surgimento da Academia Militar “ Marechal Samora Machel” 32
2.4.1. O primeiro corpo docente e estudantes da Academia Militar 34
2.4.2. Os primeiros cursos ministrados na AM 36
2.4.3. A sucessão do Comando da Academia Militar 39
2.3.4. Trabalhos de Pesquisa/ investigação relacionados com a AM 45
2.3.5. Actividades Extra Curriculares 46
2.3.5.1. Actividades Culturais 50
2.3.4.2. Desporto 53
CONCLUSÃO 65
BIBLIOGRAFIA 67

ÍNDICE DE QUADROS

Quadro 1: Cursos ministrados na AM 16
Quadro 2: Sucessão do Comando da AM desde a criação até 2014 32
Quadro 3: Dissertações e artigos  relacionados com a AM 33








































ÍNDICE DE TABELAS

 Tabela única: Primeiros estudantes graduados em 2009 pela AM                                        31














































ÍNDICE DE MAPAS

Mapa Único: Comando Militar da Macuana …………………………………………..……..21

ÍNDICE DE FOTOS

Foto 1 e 2: Vista aérea do Primeiro e Terceiro Acampamento da AM 11
Foto 3: Vista frontal da AM “MSM” adjacente à Praça dos Heróis Moçambicanos. 12
Fotos 4,5, 6 e 7 : Em cima e da esquerda para direita, o Comando Militar e a Residência de Neutel de Abreu, actual Casa da Guarda e Posto Médico, respectivamente. Em baixo, na mesma ordem, a Estatua de Neutel de Abreu e a Arvore Grande. 24
Foto 8: General Kaulza de Ariaga, em destaque ­ Comandante ­Chefe em Moçambique 1970/73 25
Foto 9 e 10: Bernardo Moises Goy Goy efectuando o patenteamento dos primeiros cadetes da EM, na Praça de Marcha local. 28
Fotos 11, 12 e 13: Os Primeiros oficiais graduados pela EM, em 1981 29
Foto 14: Marechal Samora Machel, Patrono da AM 30
Fotos 15 e 16: Monumentos erguidos em homenagem aos militares da Escola Militar que tombaram nas diversas frentes de combate e em baixo Monumento erguido em homenagem aos cadetes do primeiro curso da Escola Militar. 31
Foto 17: Ex-presidente da Republica de Moçambique, Joaquim Aberto Chissano descrendo do Busto do Patrono na entrada principal da AM 33
Foto18: Armando Emílio Guebuza, ex ­ presidente da República de Moçambique proferindo a primeira Oração de Sapiência no Anfiteatro da AM. 34
Foto19: Drª Graça Machel na companhia do então Ministro da Defesa Nacional, Joaquim Tobias Dai e Comandante da AM, Major General Júlio dos Santos Jane visitando o refeitório dos Estudantes, antes da oração de Sapiência. 35
Foto 20,21 e 22: Primeiro corpo docente afecto na AM durante capacitação no ACIPOL em 2004 36
Fotos 23 e 24: A primeira defesa de TIA na Academia Militar “Marechal Samora Machel” 38
Fotos 25 e 26: Piedade Alberto e Nélia António Massingue, primeiras mulheres oficiais das especialidades de Fuzileiros Navais e Blindados, respectivamente. 39
Fotos 27 e 28: Acto de patenteamento do primeiro Curso da AM e de Lembrança junto do Chefe do Estado 39
Foto 29, 30 e 31: A esquerda, General Graças Tomás Chongo, então Inspector Chefe das FADM, testemunhado a entrega de Pasta. A direita, General Júlio dos Santos Jane entrega as pastas ao seu sucessor General Victor Muirequetule. Em baixo, General Jane revistando a parada na hora do adeus. 40
Fotos 32, 33, 34 e 35: Acto de plantio de árvores de sombra. Em cima, a esquerda, o então Ministro da Defesa Nacional e actual presidente da Republica, Filipe J. Nyusi. A direita, o actual Ministro da Defesa Nacional, General na Reserva Atanásio Salvador Mtumuke. 43
Fotos 36 e 37: Jogo de Futebol entre veteranos das FADM e da Cidade de Nampula 43
Fotos 38 e 39: Participantes da 1ª edição de Meia Maratona Samora Machel. Entre organizadores, patrocinadores e vencedores. 44
Foto 40 e 41: A Esquerda, CEMG das FADM, General do Exercito, Graça Chongo a entrada na tenda da reunião. A direita. Oficiais, de todos os escalões, na hora do intervalo da Reunião. 45
Fotos 42, 43 e 44: Em cima, O CEMG das FADM, General do Exército, Graça Tomas Chongo, falando aos oficiais da AM numa palestra subordinada a Manutenção de Paz 48
Fotos 46, 47 e 48 : Em cima, a esquerda, o coronel da Conceição Langa, Director Pedagógico da AM dirigindo ­ se aos presentes A direita, Os coronéis (Phd) José Greia, de Pé e (Phd) Pedro Marcelino, sentado, orador e moderador do tema Avaliação de Aprendizagem, respectivamente. Em baixo docentes militares e civis atentos a explanação. 49
Fotos 49, 50 e 51: A esquerda, vice-comandante da AM, Brigadeiro Albino Gabriel Mandlate, dirigindo ­ se aos participantes do seminário de capacitação em Investigação Aplicada. A direita, Phd Adérito Barbosa proferindo a palestra. Em baixo docentes militares e civis atentos aos discursos. 50
Foto 52: O mais recente grupo cultural Tufo da AM junto do 2º Tenente Fuzileiro Boaventura Xavier Vegas Barato. 52
Fotos 53, 54, 55 e 56:  Estudantes em uma sessão de Gala no anfiteatro da AM. Em cima. da esquerda para direita, danças Makwaela  e canto coral. Em baixo, na mesma ordem, danças Ngalanga e Xigubo 52
Foto 57 e 58: Estudantes exibindo, em Chimoio, Tufo e Makwela. 53
Foto 59 e 60: Presidente da República Filipe Jacinto Nyusi recebe explicação sobre a exposição electrónica, fotográfica, de escultura e pintura do tenente Mendonço, de boina azul e 2° tenente Dilénia, em Mueda, 16 de Junho 2015. 53
Foto 61, 62 e 63: A Capitã da equipa  de Futebol Feminino da AM erguendo a taça  recebida  do Ministro de Juventude e Desporto, Fernando Sumbana. Foto de Família junto do Comandante da AM, Major General Victor Muirequetule. Em baixa acrobatas da AM 55
Fotos 64, 65, 66 e 67: Em cima, da esquerda para direita,Tenentes-coronéis Eduardo Gaspar Goliate e Castigo João Zindiua recebendo cumprimentos de boas vindas dos líderes locais. Lideres comunitários invocando os antepassados para uma visita condigna dos estudantes. Em baixo o tenente-coronel Eduardo Gaspar colocando farinha no local da maqueia e, finalmente, os visitantes a caminho das pinturas rupestres. 57
Fotos 68 e 69: Vista frontal do Museu de Chai e o professor (guia do local) dando cumprimentos de boas vindas aos oficiais, estudantes, sargentos e praças da AM 57
Fotos 70 e 71: Monumento erguido em homenagem a primeira reunião orientada pelo presidente da FRELIMO no interior de Moçambique, em 1967 e o homem (sentado) que preparou e recebeu o presidente Eduardo Chivambo Mondlane. A direita, placa do monumento erguido em homenagem a reunião, no local da sua realização. 58
Foto 72 e 73: A esquerda, oficiais observando o canhão 88. A direita, oficiais observando o local do primeiro desembarque dos guerrilheiros da FRELIMO em 1 de Agosto de 1964  – Rio Tumbwe, afluente do Rovuma, em Namatil. 58
Foto 74, 75 e 76: Entrada da Base Central e os oficiais, estudantes, sargentos, praças e funcionários civis no interior da base escutando a explicação do guia Camarada Pedro Justino Seguro. Em baixo, os visitantes retirando-se da base. 59
Fotos 77 e 78: Delegação da AM, chefiada pelo Maj. Gen, Victor Muirequele, contribuindo, em valor monetário, para os combatentes que protegem a Base Central, em Muidumbe. Em destaque, a direita, veterana de guerra de Libertação Nacional, Marcelina, benificiária. 59
Foto 79: Soldado Sandra, então enfermeira da AM, prestando assistência médica a um menor, em Namatil. 60
Fotos 80 e 81: Coronel José Greia entregando, loiça e vestuário com timbre da AM, ao Veterano de Luta Armada de Libertação de Nacional, Mussa Shilangadi e sua esposa, em Chilindi. A direita os majores Gabriel Fermeiro e Bernardino Paulo Campira seguem o exemplo do chefe, entregando viveres a mesma família. 60
Fotos 82 e 83: Estudantes da AM visitando doentes no Hospital Central de Nampula 61
Fotos 84 e 85: A esquerda, Major General Jane com General Chinês na Sala Nobre da AM e a direita, o então Primeiro-ministro de Moçambique Aires Bonifácio Ali visitando as instalações da AM acompanhado pelo Maj. Gen. Jane e seu Vice Comodoro António Manuel Pondja. 62
Fotos 86 e 87: Maj.Gen. Jane, Coronel Yotamo, Ex coronel Mataruca, durante a visita na Zâmbia. 62
Fotos 88: General Victor Muirequetule, de pé e a civil dando cumprimentos de boas vindas, na presença dos membros do comando, aos dois jovens estudantes da West Point. EUA. 63
Foto 89: Elvis, estudante de São Tome e Príncipe 64
Fotos 90, 91, 92 e 93: Oficiais, Estudantes, Sargentos e Praças na colheita de amendoim e a direita campo de milho. Em baixo, Gado Bovino e Caprino 65




ABREVIATURAS E SIGLAS

AM – Academia Militar
AM “MSM” – Academia Militar “Marechal Samora Machel”
AGP – Acordo Geral de Paz
ASE – Antigo Sistema de Educação
BR – Boletim da República 
CFO – Curso de Formação de Oficiais
CR – Constituição da República
ESM “MSM”- Escola Militar “Marechal Samora Machel”
Exr – Exército 
FA – Forças Armadas
FADM – Forças Armadas de Defesa de Moçambique
FAM- Forças Armadas de Moçambique
FAr – Força Aérea 
FPLM – Forças Populares de Libertação de Moçambique
FRELIMO – Frente de Libertação de Moçambique
INDE – Instituto Nacional de Desenvolvimento de Educação
INLD – Instituto Nacional do Livro e do Disco
MG – Marinha de Guerra
MINED – Ministério de Educação
PAF – Prova de Aptidão Física 
PAM – Prova de Aptidão Militar
PEA – Processo de Ensino e Aprendizagem
QP - Quadro Permanente 
QPFA – Quadro Permanente das Forças Armadas
RENAMO - Resistência Nacional Moçambicana
SMO – Serviço Militar Obrigatório 
SNASP – Serviço Nacional de Segurança Popular
SNE ¬ Sistema Nacional de Educação
UEM – Universidade Eduardo Mondlane
UP – Universidade Pedagógica  
URSS – União das Repúblicas Socialistas Soviéticas




DEDICATÓRIA












À memória eterna do meu pai Fermeiro Muconge
À minha mãe Sica João, pelo sacrifício ao longo de 
toda aMinha existência 


AGRADECIMENTOS

Elaborar a lista dos que contribuíram para o sucesso dos nossos trabalhos académicos é uma tarefa muito difícil pois, vezes sem conta, excluímos o cidadão comum que nos deu um copo de água à Caminho do campo de pesquisa. Minimizamos julgando que o copo de água não faz diferença. Reconhecendo que isso possa acontecer em relação a esta lista, antecipo as minhas sinceras desculpas a todos que, individualmente, não forem inclusos. Não se trata de ingratidão mas sim pelo facto de a lista ser vasta. 

Contudo, endereço os meus agradecimentos ao Major General, Comandante da Academia Militar “Marechal Samora Machel, Victor Muirequetule, por todo apoio moral e material que me concedeu na produção deste trabalho. Ao Major General Júlio dos Santos Jane que, apesar da distância, não poupou os seus conhecimentos em relação à vida da AM, uma vez ter sido o primeiro comandante desta instituição. Igualmente, agradeço do fundo do coração aos Brigadeiros, vice-comandante da AM, Albino Gabriel Mandlate, pelo apoio moral concedido na elaboração deste trabalho. De igual modo, os agradecimentos vão para o Brigadeiro Francisco Zacarias Mataruca e Tenente coronel Francisco Daniel Franze, meus docentes. Ao Capitão Manuel Sardinha, pela correcção linguística, o meu muito obrigado.

Seria uma pura inconsciência, terminar esta relação sem contemplar o Chefe da Repartição de Educação Cívico­ Patriótica da AM por todas as considerações e orientações que conduziram à conclusão deste trabalho. Acredito que se não fosse a sua sábia direcção, dificilmente, teria­ se um produto igual apesar de não ser perfeito e muito menos completo. Do mesmo modo, agradeço aos meus pares da Repartição de Educação Cívico ­ Patriótica, nomeadamente: os majores Bernardino Paulo Campira, Viação Ernesto Maute, Carlos Alfinete, o capitão Azarias Severiano Chilengue, o segundo Tenente Fuzileiro Boaventura Barato, os alferes César Jemusse, Júlio António Chibayele e Eugénio Siniquinha, a Furriel Tânia Nhauleque, por todo apoio moral.

Para terminar, reconheço que apesar de todo apoio que recebi dos já mencionados, seria um erro fatal, não agradecer a minha mulher Rosa Júlio João Sabonete, aos meus filhos Fatinha, Nilza, Agy, Amadeu, Julieta, Luísa, Júnior e Gerson que, contra todas as adversidades, lutam, todos os dias para o sucesso da minha carreira profissional.


INTRODUÇÃO

Tanto quanto se sabe, as instituições resultam da evolução histórica da humanidade desde os primórdios ate aos dias que correm. Esta evolução iniciou, da mais elementar, a família ao progredindo para as mais complexas que a humanidade organizou. Destas, destaca ­ se a instituição militar dada a sua importância para o garante da segurança das restantes. Em relação à Moçambique, registos históricos apontam para o tempo dos Primeiros Estados como sendo o período em que surgiram as primeiras instituições militares facto, que evoluiu acompanhando as mudanças e vontades dos homens.  

Desta feita, o presente trabalho intitulado, História da Academia Militar "Marechal Samora Machel": da ocupação da região da Macuana pelos portugueses até a primeira quinzena do século XXI se enquadra no contexto da escrita da Historia Militar Moçambique, exaltando os feitos dos protagonistas ao longo dos tempos. O objectivo geral consistiu em divulgar, ao colectivo militar e a comunidade em geral, o percurso histórico desta instituição do ensino superior militar da aurora aos dias que correm
.
Em função do objectivo acima colocado, foram traçados os seguintes objectivos específicos: (i) descrever o período anterior à criação da Academia Militar, isto é, desde o período colonial até 2004; (ii) mencionar os objectivos da criação da Academia Militar; (iii) apontar as principais áreas de formação na Academia Militar; (iv) descrever as actividades extracurriculares desenvolvidas na Academia Militar durante os últimos dez anos.
O autor espera que o trabalho contribua para o “enriquecimento” de bibliografia para os estudantes da História da instituição militar moçambicana, ainda mais, pode ajudar na compreensão dos avanços e recuos da AM em matéria de formação de quadros permanentes das FADM em particular e para o Estado Moçambicano em geral.

Ao incluir neste trabalho actividades extracurriculares da AM tem ­ se em vista a necessidade de “mostrar” aos leitores a contribuição da AM, no período em estudo, na consolidação da independência, soberania, a unidade nacional e elevação do sentimento patriótico no seio dos jovens que frequentam o Curso de Formação de Oficiais (CFO). Ainda mais pensa-se que o presente trabalho sirva de referência na abordagem histórica da instituição militar para a melhor compreensão do passado histórico do povo moçambicano.
Por um lado, os dados constantes do trabalho foram, na sua maioria, baseados em depoimentos de oficiais, estudantes, sargentos e praças que presenciaram parte dos momentos descritos e. ainda em memórias do autor deste trabalho uma vez que viveu e continua a viver grande parte da vida desta instituição enquanto parte integrante, desde 2006. Por outro lado, foram lidos alguns documentos publicados e inéditos que versam matérias relacionadas com esta e outras instituições militares e não só assim como também a vida das Forças Armadas no seu todo.

Parte deste trabalho já foi matéria de abordagem aquando da apresentação e defesa da dissertação de Mestrado em Educação/Ensino de Historia do autor, em 2012, mas neste há particularidade de ser um pouco mais profundo e elaborado no contexto da celebração dos 10 anos da única instituição de Ensino Superior Militar em Moçambique.

Em termos de organização, o trabalho está dividido em duas grandes partes: a primeira, designada por contextualização, faz abordagem do panorama geral da Academia Militar Marechal Samora Machel e a segunda, aborda a evolução histórica da Academia Militar desde 1907 até aos dias que correm, subdivido em 5 (cinco) períodos históricos, a saber: (i) de 1907 até a independência nacional (1975); (ii) da independência nacional até 1992/94; (iv) de 1992/94 até 2004 e (v) de 2004 – criação da Academia Militar até aos dias que correm, ou melhor 2015.










CAPITULO I: CONTEXTUALIZAÇÃO

1.1. Localização Geográfica da Academia Militar “Marechal Samora Machel”

A Academia Militar “Marechal Samora Machel” (AM “MSM”) localiza-se na cidade de Nampula, província do mesmo nome, ao longo da Avenida das FPLM, no ponto onde, a tangente, corta a Rua da Solidariedade junto da Praça dos Heróis Moçambicanos (fotos 1, 2, 3 e 4). Em redor encontram-se centenas de moradias para oficiais de todos os escalões. Administrativamente pertence ao Posto Administrativo Urbano Central, concretamente no Bairro Militar. Para um bom enquadramento da AM “MSM” importa fazer uma breve descrição da cidade de Nampula, local onde ela está localizada.

Mapa 1: Divisão Administrativa da Cidade de Nampula

Fonte: Conselho Municipal da Cidade de Nampula (CMCN), 2002, adaptado pelo autor, 2015
Foto 1 e 2: Vista aérea do Primeiro e Terceiro Acampamento da AM
  
Fonte: Google Earth, 2015
Foto 3: Vista frontal da AM “MSM” adjacente à Praça dos Heróis Moçambicanos.


Fonte:oautor, 2015


Importa referir que os dados acima dizem respeito apenas às instalações onde funciona o Comando da Academia Militar (foto 1 e 3), uma vez que a AM possui outras instalações situadas para além do perímetro referido, a saber: o Terceiro Acampamento (foto 2) e o Polígono, esta última, situadas no Posto Administrativo de Anchilo.


1.2. Caracterização da terra e do Povo da cidade de Nampula

A cidade de Nampula está no ponto de encontro de estradas que ligam este ponto do pais às restantes províncias do norte assim como a região Centro através da Zambézia. A sua origem deve ser encontrada no primeiro quartel do seculo XX quando Neutel de Abreu, na missão de conquista do interland do Distrito de Moçambique atingiu o ponto mais alto da actual cidade de Nampula. O espaço geográfico que hoje é ocupado pela cidade de Nampula fez parte das quatro regiões povo makwa, neste caso, a região central. Em relação a matéria, Chilundo cita Prata (s/a) que afirma que, em função da homogeneidade cultural
(…) os Makua podem dividir­se em quatro regiões, nomeadamente a região central (entre os rios Lúrio e Ligonha, no interior), a região de Cabo Delgado (entre os rios Messalo e Ligonha, na costa), a região litoral norte (entre Nacala e o rio Lúrio) e a região do Rovuma (no vale mais baixo do Lugenda) (PRATA, S/A APUD CHILUNDO, 2001:21).
Como se pode ver, a cidade de Nampula se encaixa na região central, isto é, no espaço separado pelos rios Lúrio e Ligonha, como reporta MATARUCA (2013)
Situa-se na divisão das águas entre as bacias hidrográficas dos Rios Monapo e Meluli, e é atravessada por vários rios e riachos de carácter permanente e temporário. A zona urbana de Nampula é atravessada por vários cursos de água que contribuem para a erosão dos solos daquela urbe, agravando consequentemente os problemas ambientais, especialmente no período chuvoso, factor que também concorre para o desabamento das casas de construção precária. Os solos são essencialmente arenosos, não permitindo, assim, a retenção da humidade resultante da pluviosidade.
Em concordância com o autor acima citado, a “ cidade de Nampula possui um clima tropical de savana, caracterizado por pluviosidade superior à 1000 mm por ano. Tem duas estações climáticas: a seca é fresca e a húmida é quente. Na fase pluviosa, que acontece de Novembro à Março, ocorrem chuvas torrenciais e algumas depressões tropicais. Mais adiante o autor cita (CUMBEZA, 2009:8) que afirma que “a cidade localiza-se numa planície inclinada, com uma série de interflúvios ondulados, separados por vales baixos”. 
Em relação aos aspectos culturais a população da cidade de Nampula, apesar de fortes contactos com outras culturas, continua a observar com todo rigor a sua língua nativa, o emakhwa, assim como os ritos de iniciação, sobretudo, nas áreas suburbanas. A capulana marca uma presença muito forte na mulher makwa tanto como o uso do musiro na cara para manter o rosto sempre macio. Enquanto isso, registam-se, na cidade de Nampula, com maior incidência, as religiões muçulmana e cristã (Católica Romana e Protestante), contudo, há registos de outras religiões apesar de não serem muito representativas. 

Tabela 1: Distribuição da população do Posto Administrativo Urbano Central da cidade de Nampula por sexo
Designação do Bairro
População
H M HM
BairroBombeiros 904 812      1.716
BairroLiberdade 1.210 1.179 2.389
BairroLimoeiros 1.345 1.259 2.604
BairroMilitar 3.564 4.096 7.660
Bairro 1º de Maio 1 024 892 1.915
Bairro 25 de Setembro 846 855 1.701
Total do Posto Administrativo Urbano Central 8 893 9 093 17 986

Fonte: INE (2009) apud Maturuca (2013), adaptada pelo autor, 2015

1.3. Missões da Academia Militar “Marechal Samora Machel”

Para melhor se compreender a missão da AM deve - se recuar a análise da missão das FADM. Mas também reconhecer que a missão principal de quaisquer Forças Armadas do mundo se resume na defesa nacional em termos de soberania e inviolabilidade das fronteiras. Elas são “as portas e as fechaduras” das nações, no caso concreto, a fronteira terrestre, aérea, e marítima de Moçambique.
As FA cumprem missões que se confundem com a pátria. Não se pode ter uma nação soberana sem a instituição militar que a protege e garante a sobrevivência das suas complexas áreas de desenvolvimento. Elas constituem o monopólio exclusivo do Estado e são incomparáveis com outras instituições públicas ou privadas.
Para CASTRO (2011:5)
Ser Força Armada significa ser instituição nacional permanente e regular, (…): as Forças Armadas não são instituições governamentais, estas efémeras, substituíveis, mutáveis e, até mesmo, aparelháveis, segundo o projecto político - ideológico dos governantes de turno, também tão efémeros e com os dias contados nos cargos que, temporariamente, ocupam. As Forças Armadas perpetuam-se e dedicam-se de corpo e alma à Nação, diferentemente das organizações de governo (…), sindicais, desportivas e tantas outras que passam e são substituídas a exemplo de seus dirigentes, que, se bem preparados e escolhidos, também servem à Nação.

Se num passado recente, dada a situação política e militar de Moçambique, a missão das FA estava, essencialmente, virada para os confrontos armados a nível interno, actualmente, participam também na manutenção, consolidação da paz e na luta contra o subdesenvolvimento. Por via disso, o então presidente da RPM, Samora Machel, afirmou, durante a ofensiva da legalidade, em 1981, que: 

São tarefas fundamentais das Forças Armadas de Moçambique – FPLM: a defesa da soberania nacional; defesa da integridade territorial do nosso país; da inviolabilidade das nossas fronteiras; as nossas Forças Armadas são a expressão mais alta da unidade do povo moçambicano (…)(MACHEL, 1981:23)
A AM “MSM”, sendo parte integrante da instituição militar moçambicana, cumpre as suas missões sem discurar das missões gerais atribuídas as FA mencionadas acima. Para o efeito, o regulamento da AM “MSM” no seu artigo 1º, estipula o seguinte:  

1. A Academia Militar é um estabelecimento militar de ensino superior que desenvolve actividades de ensino, de investigação e de apoio à comunidade, com finalidade essencial de formar Oficiais destinados aos quadros permanentes das Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM).
2. Na AM são ministrados os cursos de licenciatura e de bacharelato que habilitam ao ingresso na classe de oficiais dos quadros permanentes, assim como poderão ser realizadas acções de formação que se revelem de interesse para o desenvolvimento dos conhecimentos militares.
3. Em conformidade com determinações específicas do Chefe do Estado – Maior General das Forças Armadas (CEMGFA) a AM pode ainda: 
a) Realizar cursos de qualificação, actualização ou especificação de interesse para as Forças Armadas de Defesa de Moçambique;
b) Ministrar cursos de preparação militar a licenciados e bacharéis admitidos por concurso para os quadros permanentes, com vista a dotá-los dos conhecimentos técnicos – profissionais necessários ao exercício das funções da classe e do quadro especial a que se destinam, quando não obtidos no âmbito do disposto no n° 1 do presente Regulamento;
c) Realizar, coordenar ou colaborar em projectos de investigação e desenvolvimento,
 na área de defesa ou integrados em objectivos de interesse nacional;
d) Realizar cursos ou estágios de nível superior destinados a estudantes de nacionalidade estrangeira, ao abrigo de acordos de cooperação internacionais;
e) Realizar estágios e tirocínios.

A principal missão atribuída à AM é de formar oficiais potenciais defensores da pátria moçambicana, dever mais sagrado expresso na Constituição da República de Moçambique (CRM). Para além desta nobre missão, os oficiais formados na AM podem através de actividades de ensino e investigação, apoiar a comunidade em prol do desenvolvimento do país. As missões acima indicadas constituem, de facto, uma clara continuação das principais tarefas atribuídas às FPLM logo a seguir a independência nacional.

1.4. Natureza dos cursos ministrados na AM “MSM”

A AM ministra cursos de natureza militar, apesar de o seu currículo constar disciplinas não militares e que podem ser leccionadas por docentes comuns. O corpo docente é moçambicano sendo oficiais de carreira, havendo casos de alguns que participaram nas três guerras  havidas em Moçambique nos últimos 50 anos. As disciplinas de carácter militar são, na sua totalidade, leccionadas por oficiais formados no exterior, com particular destaque para a ex – URSS, Bulgária, China, ex RDA, Cuba, Checoslováquia e Portugal .

A duração inicial dos cursos nesta instituição de ensino superior militar era de 4+1  ano, mas com a Reforma Curricular do Ensino Superior, em 2010, estes passaram a ser de 3+1 ano, com excepção dos cursos de Comunicações e Engenharia Militar que mantêm a duração anterior. 

No primeiro ano do curso, são leccionadas as disciplinas de tronco comum. Este período é reservado para ministrar conhecimentos de várias áreas do saber científico de maneiras que, o estudante, ao concluir o seu curso, tenha o mínimo de conhecimento da vida normal como qualquer outro estudante do mesmo nível. As aulas são presenciais e obrigatórias. A atribuição da carga horária depende da natureza da disciplina sendo maior para as disciplinas da especialidade.

O Processo de Ensino e Aprendizagem (PEA) é assegurado pela Direcção Pedagógica (DP) que por sua vez engloba quatro departamentos de ensino, nomeadamente: Ciências Militares, Ciências Exactas, Línguas e Ciências Sociais, Económicas e Jurídicas. 


1.5. Condições de acesso à Academia Militar “Marechal Samora Machel”


Como todas instituições, seja de ensino ou de outra natureza, existem requisitos bases que os candidatos devem reunir para a sua admissão. No caso concreto, os candidatos ao Curso de Formação de Oficiais (CFO) devem preencher os requisitos abaixo e ainda, por força do regulamento de admissão a AM, O candidato passa por (5) cinco fases eliminatórias antes de ser admitido. 

A primeira fase compreende a inscrição e a inspecção médica. Nesta fase compreende, essencialmente, a apresentação de diversos documentos junto dos Centro de Provincial de Recrutamento e Mobilização (CPRM) e posterior inspecção medica onde e feita a triagem pela equipa medica o seu estado de saúde. Em conformidade com AM (2011: s/p), os candidatos devem:

1. Ser cidadão moçambicano;
2. Não completar, até 10 de Fevereiro de 2012 , 22 anos os Candidatos Civis, e 25 anos os Militares;
3. Caso seja Candidato Militar, estar na efectividade de serviço em 01 de Setembro de 2011;
4. Ter pelo menos 1,60 m de altura;
5. Não ter antecedentes criminais;
6. Possuir a robustez física indispensável ao exercício da profissão militar;
7. Estar autorizado a concorrer, pelos pais ou por quem exerça a responsabilidade paternal, no caso de ter menos de 18 anos de idade;
8. Estar em situação militar regular, tendo cumprido as obrigações militares fixadas na lei do Serviço Militar;
9. Não ter sido eliminado, do Serviço Militar, por motivos disciplinares ou por incapacidade para o mesmo;
10. Não ter sido eliminado, por qualquer motivo, da Academia Militar; 
11. Ter concluído a 12ª classe do Sistema Nacional de Educação ou habilitação legalmente equivalente;
12. Realizar o exame de admissão à Academia Militar nas disciplinas específicas estabelecidas para cada curso, desde que as possua no seu curriculum (sic);
13. Satisfazer os pré - requisitos fixados para os cursos da Academia Militar.


A segunda fase, por regra, decorre na primeira quinzena de Novembro consistindo na realização de exames escritos, geralmente, designados por exames de admissão. Neste processo, o candidato realiza exames em função dos cursos  que pretende frequentar. Os exames de Língua Portuguesa e de Matemática abrangem a todos os candidatos. Dependendo do curso, acresce-se um e outro exame, tal são os casos dos cursos de Engenharia Militar que, para o qual, os candidatos prestam ainda os exames de Física e Desenho. O curso de Piloto Aviador, de Comandante de Meios Radiotécnicos e de Comunicações acresce-se o exame de Física. Para frequentar o curso de Administração Militar, os candidatos realizam, não só os exames de língua portuguesa e Matemática mas também o de História. O quadro 1 detalha a combinação entre os cursos e as disciplinas para os quais os candidatos devem realizar exames de admissão como um dos requisitos para frequentar o CFO na AM “MSM”. 

A terceira fase decorre nos primeiros dias do mês de Janeiro. Trata-se de realização de Prova de Aptidão Física (PAF) que consiste na superação de diversos obstáculos fíxos erguidos num complexo preparado para o efeito e outras práticas próprias de militar.

A quarta fase é aquela em que os candidatos são submetidos a testes psicotécnicos. Nesta, os prováveis oficiais das FADM prestam uma serie de provas na presença de especialistas da psicopedagogia e médicos. O objectivo desta “bateria” de testes consistem em observar se os candidatos reúnem condições psicológicas para fazer parte do corpo de oficialato das FADM.
Quadro 1: Cursos ministrados na AM e as disciplinas em que se prestam exames de admissão


Fonte: AM (2011: s/p)

A quinta fase é a Prova de Aptidão Militar (PAM). Os candidatos são dirigidos para o Campo de Instrução Militar (Polígono) onde, em cerca de 30 dias, fazem exercícios militares demonstrando a destreza e aptidão para pertencer às FA. Estes treinos fazem parte da instrução básica militar que se prolongam até dia 2 de Outubro , dia em que juram a Bandeira da República de Moçambique. 

Como ficou dito antes, em cada uma das fases mencionadas são a eliminar, significa que aquele que não obtiver resultado positivo é afastado das listas de candidatos. Lembrar que também são afastados os candidatos que por livre e espontânea vontade manifestem o desejo de retirar a sua candidatura até ao último dia da Prova de Aptidão Militar. 

1.6. O currículo da Academia Militar “Marechal Samora Machel”

Para melhor se compreender a concepção de currículo das instituições, sistemas e subsistemas de ensino, se propõe, conceituar o termo currículo no sentido que se pretende abordar neste ensaio. Para ROLDÃO (1999:47) currículo é “aquilo que se espera fazer aprender na escola, de acordo com o que se considera relevante e necessário na sociedade, num dado tempo e contexto”. Por outro lado,SILVA (2000:40) afirma que “currículo é um local no qual docentes e aprendizes têm a oportunidade de examinar, de forma renovada, aqueles significados da vida quotidiana que se acostumaram a ver como dados e naturais”.

A AM é autónoma na projecção e aprovação dos curricula dos cursos por si ministrados. Neste contexto, cabe a direcção de cada curso propor à Direcção Pedagógica as disciplinas que julga ser indispensáveis na formação de oficiais da especialidade. Mas apenas trata-se duma autonomia aparente porque a política de formação de oficiais das FADM é da decisão central, isto é, ao nível do Estado – maior general e ou Ministério da Defesa Nacional.

 PACHECO (2001: 68) abordando a questão da construção curricular, afirmou:

O currículo enquanto processo contínuo de decisão, é uma construção que ocorre em diversos contextos a que correspondem diferentes fases e etapas de concretização e que se situam entre perspectivas macro e microcurricular. (…)
a) político – administrativo - no âmbito da administração central;
b) de gestão – no âmbito da escola e da administração regional; 
c) de realização – no âmbito da sala de aula

O currículo da Academia Militar “Marechal Samora Machel” (AM “MSM”) é de natureza militar, não obstante, a existência de componentes de formação não militar que visam o enquadramento do oficial ai formado nos padrões comuns. A componente de formação não militar passa, necessariamente, pelo ensino de algumas disciplinas que, não sua essência, constituem as disciplinas de tronco comum.

As disciplinas de tronco comum, são, na sua maioria, leccionadas no primeiro ano do CFO. Algumas disciplinas duram todo o curso, como são os casos da Educação Física, Instrução Militar Geral e Instrução do Corpo de Estudantes. As duas últimas disciplinas têm a particularidade de serem as únicas que podem obrigar o estudante do CFO a deixar a AM, em caso de obtenção de classificação inferior a 10 valores, no final de cada ano lectivo, independentemente, do bom aproveitamento pedagógico em outras áreas de saber.

A partir do segundo ano de formação, os estudantes começam a aprender as disciplinas das respectivas especialidades. Se no primeiro ano, as aulas podem ser vistas em blocos, a partir do segundo, dificilmente, casos do género ocorrem, senão para aquelas disciplinas que se arrastam desde o primeiro ano.

A componente de formação dos oficiais na AM compreende, ainda, parte não estritamente académica. Trata-se da disciplina de Instrução do Corpo de Estudantes, traduzida no bom comportamento, zelo, dedicação e respeito para com os superiores hierárquicos, organização, o aprumo e o relacionamento entre estudantes e estes com a comunidade, em geral.
1.7. Estrutura orgânica da AM

No topo da hierarquia da Academia da Militar estão dois generais, dispostos na vertical, a saber: o comandante e o respectivo vice, ambos nomeados pelo comandante em Chefe das Forças e Defesa e Segurança da República de Moçambique. No escalão a seguir está uma rede de direcções, comandos e repartições, dispostos na horizontal respondendo cada um perante o comandante da AM. Também fazem parte, do comando da AM, os órgãos de apoio. O organograma na página 21 ilustra a composição dos órgãos da AM.

Importa referir que aquando da criação da AM, existiam apenas três direcções, a saber: Direcção Pedagógica, Comando do Corpo de Estudantes e Comando de Apoio e Serviços, mas, devido à dinâmica e exigências no cumprimento da sua missão, foram introduzidas uma direcção e duas repartições. A nova direcção, a Cientifica foi introduzida de acordo com a especificidade da instituição. As duas repartições acrescidas resultam das novas exigências e desafios No âmbito geral das FADM. Refere ­ se as Repartições de Educação Cívico ­ Patriótica e de Informações.

Em cada direcção ou repartição estão adstritos serviços e ou departamentos, neste último caso, de ensino, mencionados nas páginas anteriores. O Corpo de Estudante apresenta batalhões de Estudantes que, por sua vez, estão em Companhias. De igual modo, o Comando de Apoio e Serviço possui, na sua orgânica, um Batalhão de Apoio e Serviços. 

Esquema Único: organigrama actual da Academia Militar “Marechal Samora Machel”



















Fonte: Adaptado, 2015 

CAPITULO II: A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA ACADEMIA MILITAR “MARECHAL SAMORA MACHEL”

2.1. Da ocupação colonial portuguesa da região da Macuana à Independência Nacional


A AM “MSM”, dum lado, resulta da empresa de conquista e ocupação perpetrada pelos portugueses no contexto das decisões da Conferência de Berlim  e, por outro, é fruto de uma evolução histórica da instituição militar moçambicana. Os primeiros edifícios da AM remontam do primeiro quartel do século XX. O objectivo da sua construção consistiu em servir de Posto de Comando Militar da Região de Macuana de donde se organizavam as operações militares para subjugar a região para além de deter as caravanas de escravos oriundas da terra dos Yao, cujos reinos Afro Islâmicos eram principais intermediários. 

Autores como CHEREWA, IVALA & ARMANDO (1996:10) defendem que aspectos de natureza militar ditaram o desenvolvimento e crescimento da cidade de Nampula, portanto, a região foi sempre militar por excelência.

A fundação da povoação que mais tarde viria a transformar-se em cidade de Nampula, é atribuída a Neutel de Abreu, expoente da ocupação do interior do território da actual província de Nampula.
(…), entre taludes de terra rodeados de arames protegendo barracas, no meio das quais  se erguia a bandeira no topo de um mastro improvisado, lhe deu origem.
(…), Neutel de Abreu chegou pela primeira vez às terras do reino de Nampula em 7 de Fevereiro de 1907, acompanhado de um cabo, um intérprete e vinte e cinco cipais [sic] (idem).

O mapa que pode ser conferido, na página seguinte, mostra, de forma parcial, as trincheiras construídas na época da fundação do Comando Militar da Macuana que, mais tarde, segundo os autores acima citados, veio a ser o berço da actual cidade de Nampula, capital da província do mesmo nome. Este acto, considerado heróico pelas autoridades portuguesas, é atribuído a Neutel de Abreu, cuja estátua, erguida em sua homenagem, se encontra junto do Museu da AM ,(foto 5),depois de ter ser removida da actual Praça dos Heróis Moçambicanos, em frente da AM.

No interior da AM, encontram-se os primeiros edifícios, berço da cidade de Nampula, construídos no primeiro quartel do século XX. Os edifícios, em causa, hoje, servem de casa de Guarda e Posto Médico, fotos 6 e 7, respectivamente. Os edifícios, em referência, serviram de comando e residência do oficial português em destaque. Deste local, foram dirigidas acções contra os resistentes, isto é, a “empresa” de conquista e subjugação incluindo a cobrança dos impostos aos nativos.
Mapa único: Comando Militar da Macuana - Nampula

Fonte: Conselho Municipal da Cidade de Nampula (segundo um documento de 1910)

Para além dos dois edifícios referidos acima junta ­ se a Árvore Grande que, durante o período da vigência do Comando Militar da Região da Macuana, serviu de Posto de Observação (PO). Feito um estudo estratégico militar, pode ­ se notar que local escolhido pelo Major Neutel de Abreu para a construção do comando oferecia tripla vantagem:
(i) Ponto mais alto da cidade de Nampula, o caso concreto do regulado do Mpula Munu,(ii) Ponto de cruzamento das principais estradas existentes até então (confira o mapa) e a partir daqui controlar a circulação das caravanas de escravos idos da terra dos Yao.
(iii) Situa ­ se a mesma distância de quatro pontos importantes naquela altura, a saber: Murrupula, Corrane, Mecuburi e Namialo o que significa que as tropas portuguesas estabelecidas no Comando Militar da Macuana podiam, nas mesmas condições, deslocarem-se para os locais referidos reprimir ou controlar as revoltas dos nativos, sobretudo, dos Namarrais.
Fotos 4,5, 6 e 7 : Em cima e da esquerda para direita, o Comando Militar e a Residência de Neutel de Abreu, actual Casa da Guarda e Posto Médico, respectivamente. Em baixo, na mesma ordem, a Estatua de Neutel de Abreu e a Arvore Grande.


Fonte: O autor, 2011
Com o início da Luta Armada de Libertação Nacional dirigida pela Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), as instalações da actual AM serviram de Quartel-general das tropas portuguesas em serviço em Moçambique, cuja figura marcante, a partir de 1970, foi o general Kaulza de Ariaga (confira foto a seguir).


Foto 8: General Kaulza de Ariaga, em destaque ­ Comandante ­Chefe em Moçambique 1970/73

Fonte: Cortesia do PhD Pedro Marcelino

A partir das actuais instalações da AM, o exército português realizava operações terrestres e aéreas em toda zona norte do país onde a guerra era muito intensa, facto recordado pelo presidente Samora Machel, em 1978, a quando da inauguração da Escola Militar, nos seguintes termos:
Foi aqui que o colonialismo português, lacaio do imperialismo mundial tinha instalado o Quartel-General do seu exército de agressão contra o Povo Moçambicano. Aqui foram planeados os massacres, traçadas as formas dos aldeamentos. Daqui partiram os aviões que derramavam o napalm sobre o solo fértil do nosso país destruindo as vidas e bens, daqui partiram os comandos que praticavam o genocídio da nossa população, daqui partiam os assassinos, os espiões (MACHEL, 1978:1)
Lembre-se que as tropas coloniais portuguesas mantiveram as instalações que hoje pertencem a AM como quartel-general até a sua derrocada em 1974 e consequente proclamação da independência nacional em 25 de Junho de 1975.


2.2. Da Independência Nacional (1975) ao Acordo Geral de Paz (1992)


Neste ponto vai se descrever a evolução histórica no período que separou a proclamação da independência nacional ate a assinatura do Acordo Geral de Paz, em 1992. O estudo pode, em algum momento estabelecer como limite superior o ano de 1990, ano em que foi, oficialmente, introduzido multipartidarismo em Moçambique no contexto da nova Constituição da Republica.
O período em causa foi marcado por diversos cenários políticos e militares internos e internacionais que directa ou indirectamente influenciaram a instituição militar moçambicana, atendendo e considerando os seguintes cenários políticos militares: (i) a África do Sul do Apartheid invade o território moçambicano, (ii) o enceramento da fronteira de Moçambique com a Rodesia do Sul (Zimbabwe), (iii) início da guerra de desestabilização em Moçambique alimentada pela África do Sul do Apartheid e a Rodesia do Sul de Ian Smith, (iv) a queda do Muro de Berlim ou do Muro da Vergonha e consequente, (v) o fim do Pacto da Varsovia/ desmoronamento da URSS.
Face aos cenários um, dois e três, do parágrafo anterior, as autoridades moçambicanas viram obrigadas a encontrarem formas de modernizar as suas forças militares ate então guerrilheiros em regulares. Este processo passaria por formação condigna e mediada por profissionais da área. Foi nesta ordem de ideia que nasceu a Escola Militar que mais tarde, Academia Militar.

2.2.1. A criação da Escola Militar

As instalações do então Comando Militar da Região da Macuana e, mais tarde, Quartel-general das Tropas Portuguesas em Moçambique, após a proclamação da Independência Nacional, foram utilizadas como escritórios dos Serviço Nacional de Segurança Popular (SNASP), mas o cenário político-militar, a partir de 1976 , obrigou as autoridades moçambicanas a abdicar da ideia à favor de uma escola que modernizasse as FA.
O III Congresso da FRELIMO, realizado em Fevereiro de 1977, foi decisivo para o início da modernização da instituição militar em todas as componentes incluindo o ensino. O País estava em guerra necessitando de homens à altura de poder confrontar contra dois exércitos regulares e altamente equipados da região . Desta feita, a 2 de Outubro de 1978 foi inaugurada a Escola Militar, na cidade de Nampula pelo então Presidente da República Popular de Moçambique (RPM), Samora Moisés Machel que ao dirigir-se aos jovens cadetes do 1º Curso, disse:
Esta Escola é o produto do nosso crescimento e das novas exigências da fase actual. Quando os inimigos da revolução Moçambicana se armam com meios mais modernos de destruição, é necessário que possamos defender a integridade territorial do nosso país e as conquistas da Revolução, e para isso necessitamos de dominar a ciência e a técnica militares modernas. A formação que irão adquirir nesta Escola é um passo para a resolução de algumas exigências.
Na perspectiva de MUIREQUETULE (2004:1) o processo de formação serviria para a:
1. Modernização das FPLM (…) como forma de adequação às novas missões de defesa da independência nacional e integridade territorial.
2. (…) Objectivo fundamental da formação nesse período era transformar as FPLM, que eram forças de guerrilha em Exercito Regular, cuja componente técnica estava assegurada pelos países com os quais Moçambique mantinha relações de cooperação no domínio técnico – militar.
 Com a criação da Escola Militar o país passou a contar com uma instituição de formação militar que graduava oficiais subalternos para os quadros das Forças Armadas (FA), no interior de Moçambique, sobretudo, para o ramo do Exército. A formação, iniciada em 1978, contou, nos primeiros anos, com docentes estrangeiros, principalmente, da extinta URSS que, gradualmente, foram preparando militares moçambicanos para os substituir.
 Ainda em conformidade com MUIREQUETULE (OP.CIT) “em 1990, à luz do diploma Ministerial número 106/90, de 12 de Dezembro, a Escola Militar passa a ter reconhecimento jurídico ao nível do Sistema Nacional de Educação (SNE), vigente no país, tendo sido classificada como instituição de ensino médio”.
O diploma que o autor aponta, refere o seguinte:
Artigo 1. 1 “ É criada na cidade de Nampula a Escola Militar “ Marechal Samora Machel”.
2.A Escola Militar “ Marechal Samora Machel”, é uma instituição de ensino Médio técnico profissional subordinada ao Ministério da Defesa Nacional.
Artigo 2. A Escola Militar “ Marechal Samora Machel”, destina­se à formação de oficiais subalternos das Forças Armadas de Moçambique/ FPLM e à reciclagem e aperfeiçoamento

A graduação atribuída aos cadetes do primeiro até sétimo curso, foi a Aspirante a Oficial  e sem equivalência do nível académico em relação as instituições de formação profissional civis. O diploma acima, constituiu um instrumento legal da exigência do que já vinha sendo feito   pelo Comando da Escola Militar relativa à conclusão da 9ª classe  do Antigo Sistema de Educação (ASE) ou equivalente, por parte dos cadetes que deviam frequentar aquela instituição .
Em conformidade com os depoimentos do Brigadeiro Francisco Zacarias Mataruca, do Coronel Pedro Marcelino e Tenente-Coronel Manguamane, oficiais que presenciaram todo o percurso da histórico da Escola Militar, sabe-se de que durante a vigencia desta instituiçao na cidade de Nampula, (1978-2008), foi dirigida por um total de 11 comandantes. Cujos nomes constam a seguir:
1. Coronel Bernardo Moisés Goy-Goy;
2. Major Agostinho Xavier Mahanjane
3. Coronel Rafael José Rohomodja
4. Coronel Elias Germano Jalamane
5. Coronel Paulino José Macaringue
6. Coronel Victor Muirequetule
7- Brigadeiro Eduardo Cordeiro Lauchande
8. Coronel Daniel Frazão Chale
9. Coronel Eugénio Ussene Mussa
10. Brigadeiro Azarias Mondlane
11. Tenente-Coronel Carlos Michon
No período acima referido, passaram 12 cursos com a duração de três anos cada e sabe ­ se, também, que durante os cerca de trinta anos, a Escola Ministrou cursos de reciclagem ou aperfeiçoamento, com maior incidência depois de 1995.
Foto 9 e 10: Bernardo Moises Goy Goy efectuando o patenteamento dos primeiros cadetes da EM, na Praça de Marcha local.

Fonte: Arquivo

Fotos 11, 12 e 13: Os Primeiros-oficiais graduados pela EM, em 1981


Fonte: Arquivo

2.2.2. Marechal Samora Machel, Patrono da Escola Militar


Na celebração do 10º aniversário da criação da Escola Militar, 2 de 0utubro de 1988, o então Presidente da República Popular de Moçambique, Joaquim Alberto Chissano, em homenagem ao seu antecessor, Samora Moisés Machel , atribuiu a esta instituição de ensino militar, o nome de Escola Militar “Marechal Samora Machel” deixando de ser Escola Militar de Nampula como, oficialmente, era chamada.
Foto 14: Marechal Samora Machel, Patrono da AM

Fonte: Imprensa da AM, s/d
Este acto constituiu o mais elevado reconhecimento da nação moçambicana, em geral e, da instituição militar, em particular, ao homem que lutou pela modernização das Forças Armadas de Libertação de Moçambique/ Forças Armadas de Moçambique (FPLM/FAM) desde a independência nacional em 1975 para além de ter sido o seu respeitado comandante desde a Luta Armada de Libertação de Moçambique.
Na mesma data, refere ­ se a 2 de Outubro de 1988, foi inaugurado um monumento em frente do Museu local, em homenagem a todos combatentes da Escola Militar (oficiais, cadetes, sargentos e praças) que tombaram em diferentes frentes de combate em defesa da soberania e integridade territorial.
No que diz respeito ao monumento em homenagem aos militares que tombaram nas diferentes frentes de combate, faz-se uma menção particular a uma turma de cadetes de Artilharia Terrestre vitimada por uma mina antitanque, em 13 de Fevereiro de 1981. Por esta razão, na Escola Militar, o dia 13 de Fevereiro era comemorado como o dia do Professor, uma vez que, entre as vítimas, estava um especialista soviético, professor da turma referida.
Fotos 15 e 16: Monumentos erguidos em homenagem aos militares da Escola Militar que tombaram nas diversas frentes de combate e em baixo Monumento erguido em homenagem aos cadetes do primeiro curso da Escola Militar.

  Fonte: O autor, 2013


2.3. Do Acordo Geral de Paz (AGP) à criação da Academia Militar


Terminado o conflito militar que deflagrou o país durante 16 anos, as forças militares de ambas partes, refere ­ se as forças governamentais e os guerrilheiros da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) foram acantonados em diversos locais de Moçambique. Dos locais de acantonamentos foram seleccionados e ou de forma voluntaria os homens que, por força das cláusulas do AGP, deviam pertencer ao Novo Exército.
Em 1995, começou uma nova era de formação, o que se pode considerar como sendo a segunda fase. A partir daquele ano, a EM começou a receber oficiais com graduação, tanto académicas, como militares, diferentes, vindos da fusão das FPLM e guerrilheiros da RENAMO, no contexto da reconciliação e formação das FADM, cuja natureza de recrutamento e preparação básica militar foi divergente.
Arespeito da matéria do parágrafo anterior, MUIAMBO (2007:3) escreveu dizendo que “os efectivos do novo exército trazem consigo diferentes modelos de preparação militar e de modus operandi. Isso associado ao baixo nível de escolaridade, têm lhes dificultado o desempenho de funções como oficiais”. Neste contexto, o autor coloca o seu ponto de vista em relação aos cursos de reciclagem que iniciaram em 1995.
Os cursos de reciclagem eram destinados, principalmente, para aqueles que não haviam passado por uma escola militar, sobretudo, a EM “MSM” como sendo aquela que nutria os valores nacionais. Este processo vigorou até 2008, ano em que, formalmente, foi transferida para Dondo, província de Sofala e transformada em Escola Prática do Exercito . Lembre­s e de que o processo de reciclagem acima referido foi extensivo, nos últimos, aos sargentos que após os dez meses de formação ascendiam a classe oficiais, neste caso concreto, alferes.


2.4. O surgimento da Academia Militar “ Marechal Samora Machel”


Juridicamente, a Academia Militar (AM) foi criada pelo decreto 62/2003, de 24 de Dezembro, tendo ocupado de forma gradual as instalações onde, por cerca de 30 anos, funcionou a Escola Militar. Importa referir que houve uma coexistência nas mesmas instalações durante cinco anos entre a recém­criada AM e a EM . A cerimónia de inauguração da AM, em 2004, foi dirigida pelo então Presidente da República de Moçambique Joaquim Alberto Chissano, Comandante-Chefe das FADM. O acto mais importante desta cerimónia foi o descerramento do Busto do Patrono da AM, Samora Machel.
A necessidade de criação de uma academia militar não é do século XXI, como veio a seconfirmar. Logo após a independência já se pensava numa instituição deste nível. O então presidente da Republica Popular de Moçambique, Samora Machel, discursando aos cadetes do 1º curso, em 1978, não deixou dúvidas acerca do assunto, ao afirmar: “Inauguramos hoje a Escola Militar de Quadros. Será a primeira Escola a nível universitário que formará Quadros para as Forças Armadas” (MACHEL, 1978:1).
Apesar da existência de meios materiais e docentes qualificados, vindos dos países do bloco do leste, como a ex-URSS, não foi possível concretizar o sonho de Academia porque, em Moçambique, não havia número suficiente de jovens com o nível médio para frequentar o nível superior. Com efeito, a rápida expansão do Sistema Nacional de Educação e a estabilidade política militar, desde 1992, permitiu a conclusão do nível médio de muitos jovens provendo, assim, recursos humanos com habilitações para frequentar instituições do ensino superior.
No discurso de abertura oficial da AM, no dia 29 de Setembro de 2004, o então presidente da República e Comandante-Chefe das Forças de Defesa e Segurança, Joaquim Alberto Chissano, afirmou:
A abertura da Academia Militar “Marechal Samora Machel” abre por sua vez uma nova pagina na história da formação e modernização das FADM, num período em que a ciência evolui com uma velocidade espantosa. Sei que a determinação da nossa juventude saberá acertar passo com o resto das forças do mundo equilibrado de paz e solidário.
Foto 17: Ex-presidente da Republica de Moçambique, Joaquim Aberto Chissano descrendo do Busto do Patrono na entrada principal da AM

Fonte: Imprensa da AM, 2004

 O Ministério da Defesa Nacional (MDN), até o final da guerra dos 16 anos, contava com oficiais formados no exterior nas diversas especialidades militares com o nível superior para além de que nos dez anos subsequentes ao Acordo Geral de Paz (AGP), muitos militares frequentaram e concluíram o ensino superior nas várias universidades do país, com particular destaque para a Universidade Pedagógica (UP) e Universidade Eduardo Mondlane (UEM) o que facilitou, em larga medida, a auto-suficiência em docentes para uma academia.
Enquanto isto, no dia 13 de Julho de 2005, o ex ­ Presidente da República de Moçambique Armando Emílio Guebuza proferiu a primeira Oração de Sapiência cujo tema foi O papel da instituição militar na promoção da Unidade Nacional e patriotismo e no combate à pobreza marcando, oficialmente, o início das actividades lectivas desta instituição de ensino superior militar. Tratou ­ se duma aula presenciada, não só pelos primeiros estudantes da AM, mas também pelos oficiais, sargentos e praças afectos nesta instituição assim como membros do Governo da Província de Nampula e populares.
Foto18: Armando Emílio Guebuza, ex ­ presidente da República de Moçambique proferindo a primeira Oração de Sapiência no Anfiteatro da AM.

Fonte: Imprensa da AM, 2005
Em reconhecimento do grande contributo do primeiro presidente de Moçambique independente e patrono da AM, o Comando da AM convidou, a Dra Graça Machel, sua viúva, para proferir a segunda oração de Sapiência. Lembre ­ se de que o plano inicial na criação da Escola Militar era de ser uma universidade, facto que veio a concretizar­se muito depois da sua morte. Desta vez a oradora abordou, em Março de 2006, “O contributo cívico-patriótico das Forças Armadas de Defesa de Moçambique para a materialização do projecto nacional de desenvolvimento”.


Foto19: Drª Graça Machel na companhia do então Ministro da Defesa Nacional, Joaquim Tobias Dai e Comandante da AM, Major General Júlio dos Santos Jane visitando o refeitório dos Estudantes, antes da oração de Sapiência.

Fonte: Imprensa da AM, 2006


2.4.1. O primeiro corpo docente da Academia Militar


O primeiro corpo de docentes militares com que a AM contou na abertura, em 2005, foi capacitado, no ano anterior, na Academia de Ciências Policiais (ACIPOL), em Maputo. Destes, figuram, nas palavras dos coronéis Langa e Marcos Damião e ainda do Tenente-coronel Franze, os seguintes : o Brigadeiro Francisco Zacarias Mataruca, os Coronéis José da Conceição Langa, Sebastião Bastos Caetano, Rafael André Muhunguane, Marcos Tivane, Marcos Damião, Momade Daudo Juma, António Gonzaga, os Tenente-coroneis Francisco Daniel Franze, Justino Matavele, Evans Calenge, Varele, Ernesto Nhambo Lucas, Raul Gueze Armanze, Nelson de Araújo, Felix Silvestre João, os Capitães-de-fragata Hilário Assane, Zefanias Mambirisse Nafital, António Alfredo, o major Micas Aurélio Cuna e ainda os malogrados , Tenentes-coronéis Damião Cossa, Safim Mussa, Júlio João Sambola e Capitão-de-fragata Simão Alberto. As fotos 7,8 e 9 mostram o primeiro corpo docente militar da AM.
Por um lado, os docentes, referidos no parágrafo anterior, foram selecionados nas diversas instituições militares incluindo a Escola Militar, entre Mestrados e Licenciados em várias especialidades Militares e comuns. Por outro lado, foram contratados alguns docentes civis para o preenchimento de vacaturas que, por falta de docentes militares com respectiva formação e não só, foi uma das formas encontradas para envolver a comunidade na formação de oficiais das Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM).
Foto 20,21 e 22: Primeiro corpo docente afecto na AM durante capacitação no ACIPOL em 2004

Fonte: Cortesia do Tenente coronel Francisco Daniel Franze

2.4.2. Os primeiros cursos ministrados na AM


O primeiro ano lectivo da AM contou com três cursos, a saber: Infantaria, Fuzileiros Navais e Administração Militar. No momento do arranque das aulas eram 59 estudantes, dos quais 7 mulheres. Como tradição, o recrutamento para as Forças Armadas obedece e observa a unidade Nacional, os primeiros estudantes da AM eram oriundos de todas províncias do pais.
Dos registos, constantes dos arquivos da AM, sabe-se que dos 59 estudantes admitidos para frequentar o primeiro ano, em 2005, 49 concluíram com êxito e fizeram parte da primeira graduação em 2009, (confira a tabela). Os restantes 10 não graduaram, no ano referido, pelas seguintes razões: 5 cinco tiveram bolsa de estudo para a Universidade Eduardo Mondlane onde mais tarde concluíram a Medicina, 4 (quatro) não tendo obtido bom aproveitamento pedagógico ao longo da formação, algo natural, reprovaram e 1 (um), infelizmente, acidentado, nas imediações da AM, acabou ficando inapto para o Serviço Militar. Este último foi convidado a deixar as fileiras das FADM mas também atribuído uma bolsa para continuar com os estudos em outra instituição de ensino superior do país.
A primeira graduação, ocorrida em 2009, marcou o fim do primeiro ciclo de formação de oficiais das FADM com nível superior, no país. Conforme ilustra a tabela a seguir, foram oficiais de Infantaria, Fuzileiros Navais e Administração Militar. A cerimónia de graduação decorreu após a conclusão das cadeiras curriculares, do tirocínio e da elaboração e defesa de Trabalho de Investigação Aplicada (TIA).
Tabela única: Primeiros estudantes graduados em 2009 pela AM
Designação da especialidade Curso Efectivos por sexo Total
H M HM
01 Infantaria 14 0 14
02 Fuzileiros Navais 18 01 19
03 Administração Militar 12 04 16
Total 44 05 49
Fonte: Secção de Estatística da AM, adaptado, 2014

Em relação as defesas de TIA, a primeira estudante a apresentar a sua defesa foi Fídia Governo André, da Administração Militar, cujo jurí foi presidido pelo General do Exército na Reserva, então Chefe do Estado-maior das FADM, Paulino José Macaringue. Dada a importância do acto , a mesa do Júri contou ainda com o Major General Júlio dos Santos Jane, então comandante da AM e o Brigadeiro Francisco Zacarias Mataruca, na altura coronel e Director Pedagógico da AM. O Major Gabriel Fermeiro, docente de História, supervisor e o então Alferes Celso Bila, na altura Médico da AM, Arguente. A defesa em causa teve lugar na Sala de Conferência da AM no dia 27 de Novembro de 2009. A temática abordada neste acto foi o Contributo do Hospital Militar de Maputo aos Militares e seus dependentes em tempo de Paz, 2004­2006.
No primeiro ciclo de formação de oficiais na AM foi observado um facto, até então inédito na história das FADM, em geral e nos fuzileiros, em particular. Pela primeira vez esta especialidade militar contou com um oficial do sexo feminino, trata-se Piedade Alberto.Na verdade, os factos inéditos na história de formação de oficiais para os quadros permanentes das FADM prosseguiram na segunda graduação e na quinta graduação, onde em 2011, Julieta tornou-se primeira Piloto Aviador e em 2013 foi a vez da Nélia António Massingue a tornar-se primeira oficial das tropas Blindadas, em Moçambique. As fotos a seguir ilustram as mulheres referidas neste parágrafo.
Fotos 23 e 24: A primeira defesa de TIA na Academia Militar “Marechal Samora Machel”

Fonte: Cortesia da visada, 2009
Fotos 25 e 26: Piedade Alberto e Nélia António Massingue, primeiras mulheres oficiais das especialidades de Fuzileiros Navais e Blindados, respectivamente.

Fonte: Cortesia das visadas, 2009 e 2013
Fotos 27 e 28: Acto de patenteamento do primeiro Curso da AM e de Lembrança junto do Chefe do Estado

Fonte: Imprensa da AM, 2009


2.4.3. A sequência de sucessão do Comando da Academia Militar


Desde a criação da AM esteve no topo da sua hierarquia o Major General Júlio dos Santos Jane e o Comodoro António Manuel Pondja como vice-comandante. Estes dois oficiais generais viriam a cessar as suas funções em 2011 tendo sido substituídos pelo Major General Victor Muirequetule e pelo Brigadeiro Armindo Nhambinde, respectivamente, comandante e vice – comandante. O acto de entrega de pasta foi dirigido pelo então Chefe do Estado-maior das FADM, General do Exército na Reserva, José Paulino Macaringue, na presença do então Inspector das FADM e actual Chefe do Estado-maior das FADM, General do Exército, Graça Tomás Chongo.
A Movimentação dos oficiais generais acima mencionados visava imprimir uma nova dinâmica no seio das FADM em geral e na AM, em particular. Os dois oficiais cessantes tiveram sortes diferenciadas. O Major General Júlio dos Santos Jane assumiu o comando dos emergentes Serviços Cívicos de Moçambique enquanto que o Comodoro António Manuel Pondja, tendo cumprido o dever de defesa da pátria com zelo e dedicação, passou a reserva. As fotos a seguir ilustram o momento do transpasse do poder, ocorrido na Sala Nobre da AM.
Foto 29, 30 e 31: A esquerda, General Graças Tomás Chongo, então Inspector Chefe das FADM, testemunhado a entrega de Pasta. A direita, General Júlio dos Santos Jane entrega as pastas ao seu sucessor General Victor Muirequetule. Em baixo, General Jane revistando a parada na hora do adeus.


Fonte: Imprensa da AM, 2011
Em resumo, desde 2005, a AM teve 2 comandantes, 3 vice-comandantes, 4 Directores Pedagógicos, 4 comandantes do Corpo de Estudantes, 5 comandantes e Apoio e Serviço e 2 Chefes de Repartição de Informações. Enquanto as Repartições de Educação Cívico ­ Patriótica e a Direcção Cientifica ainda não registaram sucessões. O quadro abaixo ilustra os nomes dos dirigentes referidos neste parágrafo.
Quadro 2: Sucessão do Comando da AM desde a criação até 2014
Patente Nome Período
Major General Júlio dos Santos Jane 2004 -2011
Major General Victor Muirequetule 2011-?
Vice - comandantes
Comodoro António Manuel Pondja 2004-2011
Brigadeiro Armindo Nhambinde 2011 -2013
Brigadeiro Albino Gabriel Mandlate 2013 - ?
Directores Pedagógicos
Coronel Virctor Muirequetule 2004 -2007
Coronel Francisco Zacarias Mataruca 2007 -2010
Coronel Sebastião Bastos Caetano 2010 - 2013
Coronel José da Conceição Langa 2013 -?

Comandantes do Corpo de Estudante
Coronel Cândido José Tirano 2004-2011
Coronel Rafael André Mahunguane 2011 - 2012
Coronel Omar Nalá Saranga 2012 
- 2014
Coronel Inácio Almeida Furvela 2014 -?

Comandante de Comando de Apoio e Serviço
Coronel Momade Daudo Juma 2005-2009
Coronel Alberto Mazivila 2009 ­ 2011
Coronel Guilherme 2011
Coronel Simeão Ngomane 2011 -2012
Coronel Machude Taibo 2012 ­ ?

Directores Científicos
Coronel Pedro Marcelino 2013 -?

Chefe da Repartição de Informações Militares
Coronel Álvaro José Omar 2012- 2015
Coronel Joaquim Domingos Alface 2015 ­ ?
Chefes da Repartição de Educação Cívico -Patriótica
Coronel Alberto Luhamisse Salate 2012 - ?

Fonte: o autor, 2015


2.3.4. Grandes eventos realizados na Academia Militar "Marechal Samora Machel"

Importa fazer abordagens sobre os grandes eventos que forma ordenaria ou espontaneamente ocorreram na AM durante os últimos dez anos. AM sendo uma instituição de ensino superior militar, acolheu eventos de âmbito académico e dum outro de âmbito meramente militares. 

Começando pelos eventos meramente militares dizer que, em cada 2 de Outubro, realiza-se uma cerimónia solene de Juramento de bandeira pelos estudantes do primeiro ano. Trata­se de estudantes que ingressam vindos da vida civil uma vez que alguns integram no colectivo de estudantes da AM vindo de unidades militares de vários pontos do país. Este acto vem decorrendo desde 2005. Outra cerimónia que merece realce é a de graduação e, como ficou dito antes, a primeira teve lugar em 2009, com a conclusão do Curso de Formação de Oficiais de 49 estudantes dos cursos de Infantaria, Fuzileiros e Administração Militar.

Igualmente, a AM acolheu alguns eventos do nivel Ministério de Defesa Nacional e das FADM no geral o que demostra que esta instituição não está isolada ou separada das outras unidades militares e sectores de defesa de Moçambique. O particular destaque vai para o X Conselho Coordenador do Ministério da Defesa Nacional, em 2011. Durante a realização deste evento, os participantes plantaram de árvores de sombra. Foi uma das formas encontrada pelos dirigentes do Ministério da Defesa Nacional para valorizar o ambiente. 

Fotos 32, 33, 34 e 35: Acto de plantio de árvores de sombra. Em cima, a esquerda o actual presidente da Republica, Filipe J. Nyusi. A direita, o Defesa Nacional, General na Reserva Atanásio Salvador Mtumuke.Em baixo, na mesma ordem, o então CEMG das FADM, General de Exercito Paulino Macaringue e MajGen Victor Muirequetule, Comandante da AM

  
  
Fonte: Imprensa da AM, 2011

Do mesmo modo, a AM testemunhou a abertura oficial da semana 25 de Setembro do ano 2012. Entre várias actividades realizadas para assinalar o evento, destacou ­ se uma partida de futebol, no Estádio 25 de Junho, arredores da cidade de Nampula, entre os veteranos do Ministério da Defesa Nacional e os da cidade de Nampula, como ilustra as fotos a seguir.
Fotos 36 e 37: Jogo de Futebol entre veteranos das FADM e da Cidade de Nampula
  
Fonte: Imprensa da AM, 2011

Como forma de homenagear o patrono desta Instituição de Ensino Superior Militar, desde 2013, realiza ­ se Meia Maratona.É uma competição que envolve todos os escalões, entre militares e civis. A iniciativa nasceu do então comandante do Corpo de Estudante, coronel Omar Nala Saranga e acolhido com satisfação pelo comando da AM. O lema da primeira edição foi Viva Samora, Viva a Saúde. Lembre ­ se de que, naquele ano, o saudoso Presidente da República faria 80 anos de idade se fosse vivo, dai a expressão patente, 80 ANOS VIVENDO EM NOSSOS CORAÇOES.
Fotos 38 e 39: Participantes da 1ª edição de Meia Maratona Samora Machel. Entre organizadores, patrocinadores e vencedores.

  

Fonte Imprensa da AM, 2013

Em Agosto de 2015, teve lugar a reunião de preparação do Exercício do final do ano lectivo militar – HAVARA 2015. É um evento que em cada ano é realizado em uma das onze províncias de Moçambique marcando o final do ano lectivo militar. Neste contexto, Nampula, concretamente AM, recebe o testemunho da província de Manica que acolheu o evento no ano de 2014. As imagens ilustradas pelas fotos que seguem retractam a reunião de Agosto, realizada no Polígono, Anchilo.
Foto 40 e 41: A Esquerda, CEMG das FADM, General do Exercito, Graça Chongo a entrada na tenda da reunião. A direita. Oficiais, de todos os escalões, na hora do intervalo da Reunião.

  
Fonte: Imprensa da AM, 2015

Importa referir que durante a realização dos diversos eventos, sobretudo, graduações de estudantes finalistas, o comando da AM tem criado condições para reconhecer aos oficiais docentes, estudantes e funcionários civis que se notabilizam no cumprimento das suas obrigações, em suma, com zelo e dedicação. Trata ­ se de prémios em bens materiais, valores monetários e elogios. Tudo começou em 2007 quando 6 membros da AM, entre oficiais e soldados tiveram o subsídio de zelo e dedicação correspondente a um salário pela sua dedicação naquele ano. Foram eles:

1. Coronel André Rafael Mahunguane
2. Tenente coronel Titos José da Rocha
3. Tenente coronel Abrão Duarte
4. Segundo Tenente Fuz Boaventura Xavier Barato
5. Primeiro-sargento Justino Laisse 

Nas cerimónias da primeira graduação dos estudantes da AM, em 2009, foi premiado como melhor estudante, o actual capitão Anuwar Issa. Entre os prémios constaram, um computar portátil, uma viagem a Portugal e uma Espada também por parte da República Portuguesa. Em 2013 apenas um docente e uma funcionária foram reconhecidos pela sua dedicação ao longo do ano. Refere se ao Major Benedito Tomas e a senhora Isaura Romeu Misseque tendo merecido um computador portátil e um telefone, respectivamente.


2.3.4. Trabalhos de Pesquisa/ investigação e palestras realizadas na AM

2.3.4.1. Trabalhos de Pesquisa/investigação 

Tanto quanto se sabe, de 2005 até aos dias que correm, a AM não privilegiou os trabalhos de pesquisa ou investigação relacionados com a própria instituição, contudo há que se destacar trabalhos realizados e coordenados pela Direcção Científica . Refere ­ se a dois trabalhos de pesquisa encomendados pelo Ministério de Defesa Nacional. Um visava encontrar as razões de não permanência de jovens após o cumprimento do Serviço Militar Normal apesar da existência de abertura para o efeito e o outro abordava questões ligadas à aderência de jovens ao cumprimento do Serviço Militar. 

Em relação a vida da AM, foi feito um estudo que procurou saber do desempenho dos oficiais formados na AM, cuja área de pesquisa foi a região sul de Moçambique pelo facto de ser aquela que reúne a maioria dos oficiais formados pela AM até então. Importa referir que outros trabalhos foram produzidos por iniciativa individual com o objectivo de espelhar a realidade desta instituição por obras escritas. Destes, há que notabilizar duas dissertações de mestrado defendidas, em 2012, na Universidade Pedagógica­ Maputo. Mas o quadro abaixo ilustra a natureza e os títulos dos trabalhos referidos acima.


Quadro 3: Dissertações e artigos e relacionados com a AM
Autoria Natureza Titulo Ano 
01 Coronel Alberto L. Salate, 
Major Gabriel Fermeiro e Capitão Azarias S. Chilengue
Ensaio Museu da Academia Militar: no passado e no presente
2014
02 Coronel Pedro Marcelino, Major Elias Achimo Aly e Major Benedito Tomas Lote Ensaio A Percepçao da sociedade civil sobre o cumprimento do Serviço Militar 2014
03 Tenente coronel Francisco Daniel Franze Ensaio Aderência dos jovens ao Serviço Militar 2014
04
Capitão Azarias Severiano Chilengue

Dissertação O papel da Geografia Militar na formação de oficiais das FADM, 2005-2012

2012




05



Major Gabriel Fermeiro

Dissertação O papel da Academia Militar Marechal Samora Machel na promoção do patriotismo nas Forças Armadas de Moçambique, 2005 – 2011

2012

Ensaio
A problemática do ensino da Historia em Moçambique: o caso da Academia Militar “Marechal Samora Machel”, 2005 - 2010
2011
Fonte: o autor, 2015


2.3.4.2. Palestras

Quanto às palestras, contrariamente as pesquisas, a AM, ao longo dos 10 anos, organizou várias palestras assim como jornadas científicas. Contudo, não sendo possível fazer menção a todas palestras realizadas, pautar ­ se­ á por algumas devido a sua importância no contexto da situação político militar no pais e do processo de ensino e aprendizagem no ensino superior.

No dia 14 de Junho de 2013, O Chefe do Estado-maior General, o General do Exército, Graça Tomás Chongo orientou uma palestra, direccionada aos oficiais do Curso de Promoção a Capitão (CPC), o único acolhido pela AM e também ao Corpo Técnico Administrativo e docentes da AM. O Centro das atenções estava a situação conturbada que o país vivia . 

As palestras constituem espaço aberto para debates entre a camada docente e outros académicos em matérias relacionadas com a carreira docente e outros assuntos da vida universitária. Participam com regularidade docentes efectivos e contratados, entre militares e civis. Para a materialização deste programa, a Direcção Pedagógica, tem reservado a cada última sexta-feira do mês parte este tipo de debates.
Fotos 42, 43 e 44: Em cima, O CEMG das FADM, General do Exército, Graça Tomas Chongo, falando aos oficiais da AM numa palestra subordinada a Manutenção de Paz

   

Fonte: Imprensa da AM, 2013
Em relação à palestra realizada em Agosto de 2014, cujas imagens são ilustradas pelas fotos a seguir, esteve enquadrada no contexto da capacitação do corpo docente da AM em matéria relacionada com o Processo de Ensino e Aprendizagem (PEA), no caso vertente, a avaliação. Fez parte de diversos eventos do género organizados pela Direcção Cientifica e Direcção Pedagógica. Outros eventos similares têm sido as jornadas científicas que, apesar de não serem regulares, constam do rol de programas da direcção Cientifica da AM. 
Fotos 46, 47 e 48 : Em cima, a esquerda, o coronel da José da Conceição Langa, Director Pedagógico da AM dirigindo ­ se aos presentes. A direita, Os coronéis (Phd) José Greia, de Pé e (Phd) Pedro Marcelino, sentado, orador e moderador do tema Avaliação de Aprendizagem, respectivamente. Em baixo docentes militares e civis atentos a explanação.

  

Fonte: Imprensa da AM, 2014

As palestras e ou capacitação do corpo docente d AM envolve académicos de outras instituições. No caso vertente, em 2015, destaca ­ se o Padre e Phd Adérito Barbosa da Universidade Católica de Moçambique, Faculdade de Educação e Comunicação.
Fotos 49, 50 e 51: A esquerda, vice-comandante da AM, Brigadeiro Albino Gabriel Mandlate, dirigindo ­ se aos participantes do seminário de capacitação em Investigação Aplicada. A direita, Phd Adérito Barbosa proferindo a palestra. Em baixo docentes militares e civis atentos aos discursos.

  


Fonte: Imprensa da AM, 2015


Enquanto as direcções Pedagógica e Científica preocupam-se na capacitação do corpo docente, a Repartição de Educação Cívico ­Patriótica centra as suas actividades ao corpo discente. Desde a sua criação, em 2012, esta repartição tem vindo a organizar várias sessões de palestras e não só assim como a divulgação da imagem da AM aos demais cidadãos por venda e distribuição de objectos timbrados com brasão da AM e palavras de ordem da AM. 




2.3.5. Actividades Extra Curriculares
O Processo de Ensino-Aprendizagem (PEA) para que seja efectivo e eficiente deve ser complementado por outras actividades ou obrigações que são realizadas para além de salas de aula em cada dia do estudante e ou do docente. Em relação a esta matéria, os membros da AM, durante os 10 anos da sua vigência, participaram dentro e fora desta em diversas ocasiões em competições desportivas, culturais e, ainda, muito recentemente visitas de estudos aos locais históricos. Para uma melhor abordagem deste ponto, sugere-se a menção em separado de cada actividade extracurricular. Assim sendo, a primeira, não pela importância mas sim em função da ordem alfabética, descrevem-se as actividades culturais.

2.3.5.1. Actividades Culturais

As Forças Armadas são uma nação em miniatura dentro de uma outra uma vez que fazem parte dessa instituição todas as camadas da sociedade desde que sejam nacionais. Isto faz com que todas as manifestações culturais estejam representadas em grande ou menor escala. A AM, sendo parte integrante desta grande instituição permanente do Estado Moçambicano, não seria uma excepção. 

É de lembrar que a prática das diversas actividades culturais, conheceram a sua massificação nos últimos cinco anos. Não se sabe ao certo as causas que contribuíram para a não massificação no período anterior a 2010, mas sabe-se de que o 2º tenente Fuzileiro Boaventura Xavier Viegas Barato (com uniforme militar na foto a seguir), impulsionou sempre a prática de diversas actividades culturais. Eventualmente, a falta de um sector específico que respondesse pelas actividades de entretenimento na AM pode ter contribuído, negativamente, para a fraca prática de actividades culturais.

O reinício da Educação Cívico - Patriótica nas FADM e a realização do IV Festival Desportivo e Cultural, em 2013, no contexto da mesma acção, pode estar associado ao incremento da prática de actividades culturais na AM, a partir dos finais de 2012.

Em termos de manifestações culturais, os membros da AM, sobretudo estudantes, apresentam danças oriundas de todo o território nacional, não obstante à forte presença de danças do norte do pais, como é o caso do Tufo, ziguir, macanheque, limbondo, mapiko e nganda. Enquanto isso a zona sul do país é representada pelo Xigubo, makwela, ngalanga marrabenta. A zona centro de Moçambique é que apresenta menor número de danças, o makwai e o Nhambau e recentemente o Nhau, dança típica de Angónia, província de Tete.

Fonte: Imprensa, 2015
Fotos 53, 54, 55 e 56:  Estudantes em uma sessão de Gala no anfiteatro da AM. Em cima. da esquerda para direita, danças Makwaela  e canto coral. Em baixo, na mesma ordem, danças Ngalanga e Xigubo

  
  
Foto: o autor, 2013
Foto 57 e 58: Estudantes exibindo, em Chimoio, Tufo e Makwela.
  
Fonte: o autor, 2013

Os estudantes da AM, também, participam no desfile de moda, exposição de diversos produtos que elevam a imagem da instituição para além e, ainda, actividades de pintura e escultura conforme provam as imagens seguintes:

Foto 59 e 60: Presidente da República Filipe Jacinto Nyusi recebe explicação sobre a exposição electrónica, fotográfica, de escultura e pintura do tenente Mendonço, de boina azul e 2° tenente Dilénia, em Mueda, 16 de Junho 2015.
  
Fonte: Imprensa da AM, 2015

Com ou sem boas exibições, pode-se entender que existe um esforço enorme em abranger a nação inteira em termo de manifestações culturais na Academia Militar. E bem escreveu, Mao Tse Tung (1944) apud FRELIMO (s/a: 77) que “um exército sem cultura é um exército ignorante e um exército ignorante não pode vencer o inimigo”.

Para Mataruca, no seu trabalho de conclusão de Curso de Promoção a Oficial General (CPOG), entendeu que

Os diversos cidadãos que afluem às FADM são portadores de múltiplas identidades das suas zonas de origem e estas qualidades, moldadas nos valores de amar e servir a pátria, garantem a coesão, condição importantíssima para o desempenho da função militar. No treino, na marcha, na preparação combativa, no refeitório, na limpeza, na prática desportiva, na música, na dança, no combate e no contacto com o povo, os valores culturais do país se interpenetram. Cada militar ganha a maior identidade: a moçambicanidade. Ele compreende que o seu local de origem é parte indissociável do maior conjunto que é a Nação Moçambicana (MATARUCA, 2011: 24-25)

Na verdade, a prática de diversas actividades culturais que se registam nos últimos 4 anos na AM é prova inquestionável da afirmação do autor acima citado. Desde a maior e melhor actuação dos grupos culturais no IV Festival Desportivo e Cultural das FADM  os jovens, futuros oficiais em formação na AM, têm demostrado vivamente a diversidade cultural em Moçambique.

2.3.5.2. Desporto

Quanto a esta actividade extra curricular, a AM, ao longo do período em estudo, desenvolveu modalidades como o futebol 11, voleibol, andebol, atletismo e futsal em ambos os sexos com a excepção desta última que é, simplesmente, praticada em masculinos. Tal com se fez referência nas actividades culturais, na matéria desportiva, há que se destacar duas figuras: o coronel André Muhunguane, no futebol e futsal e Tenente coronel Tito José da Rocha, em futebol feminino.

Resultante de campeonatos e torneios ao nível da cidade, província e nação, esta instituição sagrou-se, em algumas destas participações, vencedora e em consequência disso recebeu taças e medalhas que podem ser conferidas nas imagens a seguir. Contudo há que destacar dois momentos muito importantes:

A AM venceu o torneio, ao nível nacional, Maria Lurdes Mutola em 2014 em femininos iniciados que lhe valeu o direito à participação numa competição internacional, na Suiça;
A AM foi vencedora absoluta do IV Festival Desportivo e Cultural das FADM, em 2013 resultante das seguintes posições na classificação geral: o 1º lugar na modalidade de Voleibol; o 2º na modalidade de futebol 11 e o 3º lugar na modalidade de Atletismo.

As meninas presentes nas três fotos 22, 23 e 24 constantes na página seguinte, nem todas são estudantes da AM, mas sim, membros da comunidade circunvizinha da AM que no âmbito da relação Forças Armadas e a comunidade jogam em nome desta instituição de ensino militar, neste caso concreto, Futebol Onze Feminino.

As actividades desportivas na AM não se limitam em apenas no futebol onze feminino. As imagens seguintes testemunham a prática da ginástica acrobática para além do Voleibol envolvendo ambos os sexos.

Foto 61, 62 e 63: A Capitã da equipa de Futebol Feminino da AM erguendo a taça recebida do Ministro de Juventude e Desporto, Fernando Sumbana. A direita foto de Família junto do Comandante da AM, Major General Victor Muirequetule. Em baixa acrobatas da AM
  

Fonte: Secção de Imprensa da AM, 2014

2.3.4.3. Visitas de estudos

O objectivo fundamental das visitas de estudos, sobretudo, nas instituições de ensino, consiste em aproximar os estudantes as matérias teóricas à realidade que pode ser constituída pela paisagem, vestígios materiais e imateriais da humanidade de todos os tempos, neste caso concreto, do povo moçambicano.

Na verdade, a questão de visitas de estudos na AM nunca foi uma prioridade, não obstante a realização de algumas, contáveis em dedos de uma só mão. As razões não são claras mas a não inclusão da disciplina de História de Moçambique no currículo do CFO pode ser uma das principais razões da indiferença da direcção e docentes da AM em relação a esta matéria.

Contudo, arquivos fotográficos da Secção de Imprensa da AM lembram da realização de uma visita de estudo em 2012 em dois locais históricos, que envolveu o primeiro Curso de Promoção à Alferes Milicianos. Estes deslocaram-se, primeiro, para o distrito de Murrupula, na província de Nampula, onde visitaram os vestígios deixados pelos Khoi-san  – as pinturas rupestres. Em segundo plano, os mesmos formandos foram ao planalto de Mueda para visitarem os vestígios da Luta Armada de Libertação Nacional. 

A terceira visita de que se tem na memória foi realizada na Ilha de Moçambique, em 2013, desta vez abrangendo oficiais que estavam a frequentar o primeiro Curso de Promoção à Capitão  (CPC) havido nesta instituição. 

A única visita que envolveu estudantes do curso regular ou CFO teve lugar no mês de Junho de 2015, de 14 à 17, no contexto das comemorações dos 55 anos do Massacre de Mueda. Tendo sido indicada pelo Estado-maior general das FADM para representar as forças armadas no acto, o Comando da AM achou contemplar, na digressão, visitas em alguns locais históricos. Desta feita, foram visitados o Posto de Chai, no distrito de Macomia, no dia 14, ainda o Quartel de Omar ou Namatil ou ainda Nambiliao  no dia 15 e Base Central, no dia 17, estes dois últimos locais são dos distritos de Mueda e Muidumbe.

Fotos 64, 65, 66 e 67: Em cima, da esquerda para direita,Tenentes-coronéis Eduardo Gaspar Goliate e Castigo João Zindiua  recebendo cumprimentos de boas vindas dos líderes locais. Lideres comunitários invocando  os antepassados para uma visita condigna dos estudantes. Em baixo o tenente-coronel Eduardo Gaspar colocando farinha no local da maqueia e, finalmente, os visitantes a caminho das pinturas rupestres.

  
  
Fonte: Secção de Imprensa da AM, 2012

Fotos 68 e 69: Vista frontal do Museu de Chai e o professor (guia do local) dando cumprimentos de boas vindas aos oficiais, estudantes, sargentos e praças da AM
  
Fonte:Imprensa da AM, 2015
Fotos 70 e 71: A esquerda, Monumento erguido em homenagem a primeira reunião orientada pelo presidente da FRELIMO no interior de Moçambique, em 1967. A direita Mussa Shilangadi (sentado), Brangi quem preparou a primeira reunião no interior de Moçambique, juntos dos visitantes da AM, na sua residencia em Chilindi, distrito de Mueda, 1 de Agosto de 2015.

  
Fonte: Secção de Imprensa, 2015
Foto 72 e 73: A esquerda, oficiais observando o canhão 88. A direita, oficiais diante do local do primeiro desembarque dos guerrilheiros da FRELIMO em 1 de Agosto de 1964  – Rio Tumbwe, afluente do Rovuma, em Namatil. 1 de Agosto de 2015.
  

Foto: o autor, 2015
Importa referir que o objectivo das visitas realizadas pelos membros da AM, sobretudo, nos locais históricos da província de Cabo Delgado, não se limitou apenas em adquirir conhecimentos sobre a história da Luta de Libertação Nacional a partir dos protagonistas, igualmente, consistiu, por um lado, na divulgação da imagem desta instituição de ensino superior militar e, por outro lado, no apoio à comunidade enquanto missão plasmado no Estatuto da AM, assim como a solidariedade para com os doentes e carentes, como provam as fotos a seguir.
Foto 74, 75 e 76: Entrada da Base Central e os oficiais, estudantes, sargentos, praças e funcionários civis no interior da base escutando a explicação do guia Camarada Pedro Justino Seguro. Em baixo, os visitantes retirando-se da base.

  

Fonte: Imprensa da AM, 2015

Fotos 77 e 78: Delegação da AM, chefiada pelo Maj. Gen, Victor Muirequele, contribuindo, em valor monetário, para os combatentes que protegem a Base Central, em Muidumbe. Em destaque, a direita, veterana de guerra de Libertação Nacional, Marcelina, benificiária.
  
Fonte: Imprensa da AM, 2015
Foto 79: Soldado Sandra, então enfermeira da AM, prestando assistência médica a um menor, em Namatil.

Fonte: o autor, 2015
Fotos 80 e 81: Coronel José Greia entregando, loiça e vestuário com timbre da AM, ao Veterano de Luta Armada de Libertação de Nacional, Mussa Shilangadi e sua esposa, em Chilindi. A direita, os majores Gabriel Fermeiro e Bernardino Paulo Campira seguem o exemplo do chefe, entregando viveres a mesma família.
  
Fonte: Imprensa da AM, 2015
Fotos 82 e 83: Estudantes da AM visitando doentes no Hospital Central de Nampula
  
Fonte: Imprensa da AM, 2014

Como se pode ver a AM nos últimos anos tem envidado esforços tendentes à consolidação da Unidade Nacional, elevação do sentimento patriótico no seio dos seus membros através de visitas de estudos em que, igualmente, presta apoio as camadas vulneráveis mas que deram o seu máximo na libertação de Moçambique. Trata-se de um gesto simbólico mas carregado de “expressão” de gratidão e de reconhecimento desta instituição de ensino superior militar àqueles que participaram na conquista da independência de Moçambique. 



2.3.4.4. Visitas de cooperação institucionais recebidas e efectuadas

A AM, nos últimos dez anos, recebeu muitas visitas entre nacionais e estrangeiras. Não se estranhe o facto de que, entre 2005 e 2008, no mínimo por mês recebia três visitas. Tratando ­ se de uma instituição nova e sem igual em Moçambique, várias individualidades estavam ansiosas em compreender a natureza e o valor duma instituição superior militar em Moçambique. As imagens a seguir são testemunhas das visitas recebidas na AM.
Fotos 84 e 85: A esquerda, Major General Jane com General Chinês na Sala Nobre da AM e a direita, o então Primeiro-ministro de Moçambique Aires Bonifácio Ali visitando as instalações da AM acompanhado pelo Maj. Gen. Jane e seu Vice Comodoro António Manuel Pondja.

  
Fonte: Imprensa da AM

Foi prática durante os dez anos a troca de experiências entre estudantes da Academia Militara Marechal Samora Machel com os da Academia West Point, dos Estados Unidos da América. Nos primeiros anos, a troca envolvia em cada ano, 10 estudantes norte americanos visitavam Moçambique e por sua dois da AM deslocavam ­se o mesmo nos EUA. Mas de alguns para ca, para além de não ser anual, o número reduziu para dois de cada uma das partes, conformem ilustram as fotos. 
Fotos 86 e 87: Maj.Gen. Jane, Coronel Yotamo, Ex coronel Mataruca, durante a visita na Zâmbia.
  

Fonte: Imprensa da AM
Fotos 88: General Victor Muirequetule, de pé e a civil dando cumprimentos de boas vindas, na presença dos membros do comando, aos dois jovens estudantes da West Point. EUA.


Fonte: Imprensa da AM, 2014

Por outro lado, vários oficiais e estudantes da AM realizaram visitas a outras instituições, sobretudo de ensino sediadas ao nível de cidade, do Pais e até internacionais. Não sendo possível mencionar todas, particular destaque vai para:
Visita realizada na República da Zâmbia e Unida da Tanzânia, ao nível do continente africano
Visita a República Portuguesa no continente europeu,
Visita aos Estados Unidos da América e Republica Federativa do Brasil, no continente Americano
Visita a República Popular da China, no continente asiático.

Um dos resultados da cooperação institucional ao nível internacional foi o início de frequência de estudantes estrangeiros na Academia Militar, 2013. Naquele ano foram inscritos para frequentar o Curso de Infantaria dois jovens angolanos. Trata –se de novo desafio para a AM e as FADM em geral uma vez que isto pela primeira vez. A história militar moçambicana apenas tinha registo de saída de moçambicanos para estudar no estrangeiro e não o inverso. Até 2015, a AM recebeu estudantes da República de Angola, República Unida da Tanzânia, República de São Tomé e Príncipe e Democrática Cabo Verde

Foto 89: Elvis, estudante de São Tome e Príncipe

Fonte: Imprensa da AM, 2014

2.3.4.5. Logística de Produção

A logística de Produção é uma das actividades que está sendo levado acabo nas unidades e subunidades militares das FADM há bastante tempo, aliás, basta lembrar que durante a Luta Armada de Libertação Nacional (1964-1975) o lema, amplamente, difundido foi “Estudar, Produzir e Combater”. Os combatentes tinham tripla tarefa, para além de combater tinham que reservar tempo para produzir comida para o seu próprio sustento.

Pedro Seguro, Chilavi, Mbaque e Mussa Chilangadi e Oreste, João veteranos da Luta Armada de Libertação Nacional, ao prestarem entrevista, nos meses de Março, Abril, Junho e Agosto de 2015, nos distritos de Muedumbe, Mueda e cidade de Pemba, asseguraram ao autor que os combatentes e a população que residia nas zonas libertadas e arredores eram responsáveis pela produção de alimentos para a segurança alimentar.

Neste contexto, não se estranhe que, passado meio século, os jovens estudantes da AM e futuros oficiais das FADM pautem pela Logística de Produção. É dos bons exemplos que a juventude deve seguir para o bem da nação moçambicana. Os estudantes fazem-se ao campo de produção como componente prática da disciplina de Agro-pecuária ministrada nesta instituição.
A AM tem dedicado a sua atenção na produção de mandioca, milho e hortaliças mas também cria animais entre gado bovino, caprino e ovino para além de galinhas. Situações climatéricas que não tem sido dos melhores nos últimos anos, associado ao pouco tempo em que os estudantes, sargentos e praças estão disponíveis para o campo agrícola são os factores que concorrem para a baixa produção desta instituição. O mesmo já não se pode afirmar em relação aos engenheiros agrónomos porque esta instituição possui 7 especialistas, dos quais duas engenheiras contratadas exercendo as suas funções a tempo parcial. As imagens a seguir testemunham a prática da agro-pecuária como parte fundamental da logística de produção em vigor na AM.
Depois de esta experiência ter sido feita no espaço designado por Produção, arredores da AM, actualmente, existem dois outros campos de produção agrícola, nomeadamente: no Polígono e zona de Lourenço, todos no distrito de Nampula. Do mesmo jeito, a criação de animais, concretamente, de galinhas, teve início no Quartel do Aeroporto, hoje, esta actividade tem lugar no Polígono.
Fotos 90, 91, 92 e 93: Oficiais, Estudantes, Sargentos campo de milho. Em baixo, Gado Bovino e Caprino e Praças na colheita de amendoim e a direita 
  
  
Fonte: Imprensa da AM









Conclusão

Como se pode ler ao longo do texto as instalações que hoje pertencem a AM existem há mais de um século, para além de que, entre elas, contam ­ se as duas edificações mais antigas da cidade de Nampula. Refere ­ se a Casa da Guarda e o Posto Médico erguidas entre 1907 e 1921. A estas duas casas, junta se a Arvore Grande que no tempo de Neutel de Abreu serviu de Posto de Observação.
Sabe ­ se, igualmente, que para além de ter sido o berço da cidade de Nampula, a AM serviu como Quartel-general das tropas portuguesas que actuaram em Moçambique durante a Luta Armada de Libertação Nacional cujo comandante que se destacou foi o General Kaulza de Arriaga que dirigiu a Operação Nó Górdio. 

Proclamada a Independência Nacional, a actual AM, foi em curto espaço de tempo, escritório do Serviço Nacional de Segurança Popular (SNASP) mas devido a exigência do novo cenário politico militar da África Austral em particular e, do mundo em geral, as instalações em referência, passaram para as Forças Populares de Libertação de Moçambique (FPLM) que gradualmente estavam sendo transformadas em forças regulares. 

Dados históricos apontam para 1978, concretamente, 2 de Outubro, que jovens oriundos de todo o país, em parada solene, testemunharam a abertura oficial da Escola Militar que teria como missão fundamental a formação de oficiais para as Forças Armadas de Moçambique (FAM). A cerimónia foi dirigida pelo então presidente da República Popular de Moçambique, figura que 10 anos depois, a título póstumo viria a ser seu patrono.

Antes de ceder o seu espaço à AM, A Escola Militar “Marechal Samora Machel”, durante os cerca de 30 anos da sua vigência, passaram 12 Cursos de Formação de Oficiais para além de cursos de reciclagem cuja duração nunca superou a um ano académico. 

Enquanto isso a Academia Militar abriu as suas portas, oficialmente, em 2005, com três cursos, a saber, a Infantaria, Fuzileiros e Administração Militar num total de 59 estudantes, dos quais 7 do sexo feminino. Por ironia do destino, uma das 7 mulheres viria a ser a primeira oficial, em Moçambique, na especialidade de Fuzileiros Navais. No total foram 3 (três) cursos que trouxeram factos inéditos: o segundo, de 2007 a 2011e 2009 a 2013 onde, respectivamente foram graduadas as primeiras mulheres nas especialidades de Piloto Aviador e Comandante de Blindados.
Nos primeiros 5 anos, os cursos ministrados na AM eram de 4 + 1 Ano, isto é, 4 anos na carteira e um ano de tirocínio mas a partir de 2010 com a revisão curricular houve redução de um ano de carteira passando a ser 3 + 1 Ano. Hoje são ministrados 12 Cursos de Formação de Oficiais. Mas durante os últimos cinco anos, esta instituição de ensino superior militar experimentou um Curso de Promoção a Capitão  e ainda curso de formação de alferes milicianos.
Se no início do funcionamento da AM não eram visíveis as actividades extracurriculares, o mesmo já não se pode afirmar nos últimos cinco anos, pois assistiram ­ se várias presenças desta instituição em actividades culturais e desportivas ao nível local, nacional e até internacional. Presenças inesquecível no IV Festival Desportivo E Cultural das FADM, em Chimoio, em 2013 e a participação no Torneio Internacional de Futebol na Suíça na qualidade de vencedor do Torneio Lurdes Mutola Primeira edição, em 2014.













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